Lula conta história do bolsa família e omite que programa nasceu dos conselhos de um tucano
O PT veiculou na sua página na internet, nesta terça-feira (3), depoimentos nos quais Lula "conta como foi a criação do Bolsa Família". Confrontada com a realidade, a história relatada por ele é parecida com uma lenda. Só que muito mais criativa.
Lula disse que o projeto de segurança alimentar e combate à fome foi criado no seu instituto. Absteve-se de esclarecer que, nessa fase, sua turma deu à luz o Fome Zero, que se revelaria um retumbante fiasco. Ainda não se falava em Bolsa Família.
Ao discorrer sobre a política de transferência de renda, Lula disse coisas definitivas sem definir muito bem as coisas. Falou das críticas que recebeu por distribuir uma "ajuda mínima às pessoas que estavam abaixo da linha da pobreza".
Esqueceu de mencionar que, na origem do Bolsa Família, está uma sugestão do governador tucano de Goiás Marconi Perillo. Hoje, Lula o enxerga como inimigo. Na solenidade de criação do programa, agradeceu-lhe os conselhos (assista abaixo).
A certa altura, Lula diz num dos vídeos do PT: "A primeia coisa grave que nós encontramos para poder fazer com que a política social vingasse é que nos descobrimos que não tinha cadastro no Brasil." Lorota. O Cadastro teve de ser ampliado. Mas existia.
O Bolsa Família foi instituído pela lei 10.836, sancionada por Lula em janeiro de 2004. Lê-se no 'parágrafo único' do artigo 1º: O programa "tem por finalidade a unificação dos procedimentos de gestão e execução das ações de transferência de renda do governo federal."
O texto passa a empilhar as ações que seriam unificadas: Bolsa Escola, Bolsa Alimentação, Auxílio-Gás… Coisas criadas sob FHC. A lei informa que a clientela desses programas seria reunida no 'Cadastramento Único do Governo Federal', instituído por decreto no ano de 2001, também sob FHC.
Quer dizer: não só havia um cadastro como ele foi mencionado certidão de nascimento do Bolsa Família. O mais curioso da história contada por Lula é que as omissões e as inverdades são desnecessárias.
Nessa matéria, Lula e o petismo não precisariam passar uma borracha num pedaço do passado para se vangloriar. Sob FHC, as bolsas sociais eram enfeites de bolo. Depois do fracasso do Fome Zero, Lula levou-as a sério, convertendo-as no próprio bolo.
Em benefício da historiografia, Lula deveria pular esse corguinho. Em vez de multiplicar o seu valor pela sua autoestima, deveria dividir sua importância por sua autocrítica. Um dia, quem sabe, a autocrítica apresentará Lula a si mesmo.
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