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Josias de Souza

STF tem emoção de Copa decidida nos pênaltis

Josias de Souza

12/09/2013 19h22

Nas últimas 48 horas, os brasileiros ligados no jogo político só ouviram uma palavra: Infringentes. Há um terror reverencial pelos infringentes. As pessoas se esbarram e, antes do "olá", antes do "tudo bem?", vem a indagação: "E os infringentes?" A voz é sombria. O olhar é esbugalhado. Próprio de quem ainda não havia se recuperado do placar do primeiro tempo: "Você viu? 4 a 2 para os infringentes!

Nesta quinta, a arquibancada acompanhou o segundo tempo como se assistisse a um desenho animado. Nos desenhos, o chão às vezes acaba. E os personagens caminham sobre o vazio. Só despencam quando se dão conta de que pisam o nada. A sessão foi interrompida com o placar de 5 a 5. As 11 togas atravessam o abismo. E a galera torce para que ninguém olhe para baixo.

O placar está definido. Será de 6 a 5. O último pênalti vai ser cobrado por Celso de Mello, o mais experiente do time. Antes do apito final, Joaquim Barbosa avisou que o voto do colega está pronto. Mas, por falta de tempo, só será lido na próxima quarta. Resta saber que papel Celso de Mello escolheu para si: Romário ou Baggio?

Até aqui, Celso de Mello teve comportamento de artilheiro. É temido pelos malfeitores. Marcar um pênalti, no seu caso, seria uma obrigação. Sabendo-se que não há ninguém sob a trave, a responsabilidade aumenta. Um goleador que perde um gol feito é um fiasco. O que perde um pênalti sem goleiro é visto como traidor. Arrisca-se a ouvir ofensas na rua.

A bola está na marca. Celso de Mello pode colocá-la abaixo do travessão ou dar um bico, isolando-a. Por mal dos pecados, o espaço acima da trave é muito maior. Para complicar, o decano do time, a toga mais experiente da grande área, nutre pelos infringentes um respeito inaudito. Não é negligenciável a hipótese de Celso de Mello empurrar a partida para um insondável e interminável terceiro tempo.

O provável prolongamento de um jogo que todos imaginavam jogado terá efeitos devastadores sobre o ânimo das arquibancadas. Embora Celso de Mello já tenha sinalizado a vitória dos infringentes, a coreografia só termina na semana que vem. O time do STF caminhará sobre o vazio nos próximos seis dias. Na quarta, Celso de Mello deve olhar para baixo. Vem aí o abismo dos infringentes.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.