UPP onde Amarildo sumiu é acusada de tortura
Amarildo de Souza, o ajudante de pedreiro que sumiu em julho, continua desaparecido. O que não para de aparecer são denúncias contra PMs da Unidade de Polícia Pacificadora da Rocinha. Moradores ouvidos pelo Ministério Público relataram abusos e torturas atribuídas aos policiais. As transgressões ocorreram antes do sumiço de Amarildo.
Reportagem veiculada pelo programa Fantástico contou que, na véspera da detenção de Amarildo, a PM deflagrara uma operação de nome paradoxal: "Paz Armada". Visava combater o tráfico de drogas na Rocinha. Os métodos empregados não ornam com a filosofia pacificadora que norteia o marketing das UPPs.
A promotora de Justiça Gláucia Costa Santana relatou: "Eu ouvi mãe de família dizendo que a polícia entrava a qualquer hora, do dia ou da noite, em suas casas, dizendo que havia suspeita de que ali havia um depósito de drogas. Traziam para fora da casa adolescentes para fazer perguntas e pressionar sobre informações de onde estariam as armas ou as drogas."
Um menor que responde a processo no Juizado da Infância e da Juventude por vínculos com o tráfico disse: "Me enquadraram na viela aqui embaixo, em uma pracinha perto da minha casa. […] Perguntaram onde estavam os traficantes. Não sabendo, eles me deram uma banda. Pegaram uma sandália do meu pé, aí começaram a me dar tapa na cara, com a sandália na minha cara."
Na versão do adolescente, houve mais e pior: "Me arrastaram para o beco mais escuro. Aí começaram a me agredir. Botaram saco na minha cabeça, me molhando, dando choque." Avisado por uma testemunha da violência, um parente do rapaz foi ao encontro dele. Só então os PMs o teriam liberado.
O mesmo menor diz ter sido torturado novamente em 13 de julho, véspera do dia em que Amarildo foi visto pela última vez. Conduziram-no até Centro de Comando e Controle da UPP. "Me levaram para a dentro do banheiro. Chegou dentro do banheiro, começaram a me bater, botaram a minha cara dentro do vaso." Novamente, a chegada de um parente interrompeu o suplício.
O Fantástico exibiu vídeo no qual um PM aparece aplicando uma "gravata" no pescoço de um jovem que aguardava o ônibus. Iria para o trabalho. É auxiliar de serviços gerais. Os moradores que testemunharam a cena protestaram. E o PM nem tchum. Súbito, agressor e agredido caem no chão. Após sofrer nova gravata, o agredido é algemado.
As imagens foram gravadas na rua mais movimentada da Rocinha. PMs que faziam o patrulhamento abordaram o rapaz. "Eles me chamaram, pediram para revistar minha mochila e pediram meu documento. Falei: 'meu senhor, sou trabalhador, tenho carteira assinada, não devo nada, pode puxar aí'. Aí eles: 'não, vamos ali'. Aí eu falei que não ia. Ele me pegou na gravata e foi o que aconteceu."
Em abril, o líder comunitário Carlos Eduardo Barbosa juntou-se a um grupo de moradores e levou denúncias e tortura contra PMs da UPP da Rocinha ao Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos. O irmão de Carlos Eduardo fora confundido com um traficante.
"Os policiais começaram a bater no rosto dele, deram tapa na cara, pegaram na garganta dele e apertaram, deram soco na barriga dele", conta Carlos Eduardo. "Ele começou a ficar com falta de ar e falando que não sabia o que estava acontecendo. Por sorte, duas vizinhas fizeram barulho na janela e perceberam o que estava acontecendo."
Procurada, a PM manifestou-se por meio de nota. Escreveu que "não deixa de apurar nenhuma informação concreta que chega ao Comando das UPPs sobre má conduta de policiais". Noutra nota, a Secretaria de Segurança do governador Sérgio Cabral (PMDB) declarou que "a UPP da Rocinha é bem avaliada pelos moradores" e que "acompanha com atenção a evolução dos trabalhos do Ministério Público".
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