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Josias de Souza

Datafolha sinaliza que os ‘anões’ estão no jogo

Josias de Souza

12/10/2013 06h23

Veiculado neste sábado, o Datafolha mais recente é um retrato provisório de uma cena em movimento. Não existe matéria prima mais improvável para se construir uma certeza do que os dados dessa pesquisa. Eles servem no máximo como evidência de que: 1) o 'Olimpo' de Dilma Rousseff ainda é precário; 2) os 'anões' permanecem no jogo; 3) João Santana, o marqueteiro do PT, submete a própria língua ao risco da desmoralização.

Quem olha para o principal cenário com olhos descuidados conclui que Dilma Rousseff (42%) prevalece no primeiro turno sobre Aécio Neves (21%) e Eduardo Campos (15%). Isso porque somando-se as taxas de intenção de votos atribuídas a Aécio e Eduardo (36%) a dupla fica seis pontos abaixo de Dilma. O diabo é que, a um ano da eleição, as dúvidas podem valer mais do que a certeza aritmérica.

Por exemplo: o Datafolha informa que 1 em cada 4 eleitores (23%) ainda não escolheu um candidato. Dependendo da movimentação desse pessoal, Dilma pode virar um portento ou pode ceder o segundo turno a um dos seus antagonistas.

Dos 23% que ainda não se fixaram em nenhum candidato, 7% dizem que não sabem em quem votar. Cedo ou tarde, esse eleitor tomará um rumo. Outros 16% declaram que votarão em branco ou anularão o voto. Considerando-se o histórico das últimas eleições, esse percentual vai cair significativamente. Nas eleições de 2002, brancos e nulos somaram 10,38%. Em 2006, 8,41%. Em 2010, 8,64%.

Outra coisa: não há brasileiro que não conheça Dilma. Aécio ainda é desconhecido por 22% do eleitorado. Eduardo ostenta taxa de desconhecimento ainda maior: 43%. Significa dizer que os dois rivais de Dilma ainda têm espaço para crescer.

Não é só: os nanicos PSOL e PPS cogitam lançar respectivamente as candidaturas presidenciais do senador Randolfe Rodrigues e da ex-vereadora Soninha Francine. Nenhum dos dois vai virar presidente da República. Mas seus votos, por mínimos que sejam, podem ajudar a compor um cenário de segundo turno.

Há mais: Marina Silva, agora filiada ao PSB, desponta como uma reserva de luxo de Eduardo Campos. O Datafolha informa que, hoje, ela seria para Dilma a adversária mais dura de roer. No seu melhor cenário, Marina atinge 29%, quase o dobro do percentual atribuído ao governador de Pernambuco.

Com Marina, a disputa iria para um segundo round de placar apertado: 47% para Dilma, 41% para a líder da Rede. Escassos seis pontos percentuais de diferença, noves fora a margem de erro de dois pontos. Com seus outros rivais, a vida de Dilma seria, aos olhos de hoje, facilitada num eventual segundo turno. Bateria Eduardo por 54% a 28%. Superaria Aécio por 54% a 31%.

O tucano José Serra também pode ficar tentado a se assanhar. Num cenário contra Dilma (37%) e Marina (28%), ele aparece com 20%. O problema é que, diferentemente de Marina, Serra seria um reserva manco de Aécio. Conhecido de 97% dos eleitores, Serra arrasta a bola de ferro da rejeição: 36% declaram que jamais votariam nele.

Os resultados deste Datafolha não podem ser comparados com a sondagem anterior, veiculada no início de agosto. Antes, havia quatro candidatos. Agora, com o ingresso de Marina no PSB, só há três contendores, já que a ex-senadora e Eduardo Campos não poderão figurar na mesma urna eletrônica.

Na pesquisa de agosto, Dilma aparecia com 35%; Marina com 26%; Aécio, 13%; e Eduardo, 8%. Tudo leva a crer que, com Marina fora do páreo, seus 26% se dividem em três partes praticamente iguais: Dilma herda sete pontos percentuais, Aécio belisca oito; e Eduardo, absorve os outros sete.

Em termos políticos, o maior beneficiário foi mesmo Eduardo Campos. Ele avançou algo como seis meses de campanha em uma semana. Desde sábado passado, mercê da superexposição ao lado de Marina, o mandachuva do PSB saltou da condição de candidato nanico para a de um postulante de dois dígitos. Para desassossego de João Santana, os anões não se "comeram lá embaixo". Juntaram-se.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.