Ipea: a cada 3 homicídios, 2 são contra negros
O Ipea, instituto de pesquisa vinculado à Presidência da República, divulgou nesta quinta-feira (17) a quarta edição do seu Boletim de Análise Político-Institucional. Disponível aqui, a publicação traz sete artigos. Num deles —"Segurança Pública e Racismo Institucional"—, informa-se que de cada três pessoas assassinadas no Brasil duas são negras.
Assinam esse pedaço do boletim Almir de Oliveira Júnior, pesquisador do Ipea, e Verônica Couto de Araújo Lima, acadêmica da Universidade de Brasília dedicada à área de direitos humanos. A dupla sustenta que, mercê da discriminação, o negro tornou-se parte de um grupo de risco.
De acordo com o estudo, tomando-se a população residente nos 226 municípios brasileiros com mais de 100 mil habitantes, a chance de um adolescente negro ser vítima de homicídio é 3,7 vezes maior em comparação com os brancos. A possibilidade de um negro ser assassinado é oito pontos percentuais maior –mesmo quando a comparação envolve indivídios de mesma escolaridade e de nível socioeconômico semelhante.
Servindo-se de estatísticas coletadas pelo IBGE em 2010, os autores do estudo verificaram que os negros são mais agredidos do que os brancos também por policiais. Entre os pesquisados que declararam ter sofrido agressão no ano anterior, 6,5% dos negros informaram que os agressores eram policiais ou seguranças privados –"que muitas vezes são policiais trabalhando nos horários de folga". Entre os brancos, apenas 3,7% dos agredidos deram a mesma resposta.
Almir Júnior e Verônica Lima citam no texto pesquisa feita em 2008 entre policiais militares da cidade de Recife. Perguntou-se aos PMs: quem abordariam primeiro numa situação de suspeição que envolvesse um negro e um branco? Não deu outra: "Os policiais militares foram quase unânimes em dizer que o negro sofre um olhar diferenciado e, por isso, é sempre o primeiro a ser abordado – ou, às vezes, mesmo o único", diz o texto.
Na mesma sondagem, perguntou-se aos policiais sobre como reagiriam ao ver pessoas negras e brancas dirigindo carros de luxo. Um negro pilotando um automóvel caro é considerado suspeito por 21% dos PMs entrevistados. Apenas 2,6% declararam que considerariam suspeito um branco ao volante de um carrão.
"As decisões cotidianamente tomadas no âmbito da justiça criminal, notadamente pelas polícias, são injustificadamente mais severas para os negros do que para os brancos", concluíram os autores do estudo. "O braço da repressão legítima do Estado – por vezes, veículo até de execuções sumárias – atinge majoritariamente os jovens negros."
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