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Josias de Souza

PT no Twitter: Campos vai ‘rumo ao precipício’

Josias de Souza

23/10/2013 05h34

Administrada pela Secretaria de Comunicação do diretório nacional do PT, a conta oficial do partido no Twitter veiculou na noite desta terça-feira (23) uma mensagem dirigida a Eduardo Campos, presidenciável do PSB.

O texto faz uma previsão e roga uma praga: "Todos os que prognosticaram a derrocada do PT ficaram pelo caminho. Os Bornhausens da vida abraçaram-se a E. Campos rumo ao precipício!"

Numa segunda mensagem, o microblog petista insinua que o neto de Miguel Arraes trafega na faixa da direita: "O PT, como um dos herdeiros de lutas da esquerda brasileira, seguirá cada vez mais firme em defesa dos interesses do povo!"

Quando Eduardo Campos decidiu romper com o governo de Dilma Rousseff, a reação de Lula sinalizou que a separação envolveria o mesmo tipo de indecisão que acompanha a ruína de um casal. Lula defendeu que o divórcio fosse amigável.

As mensagens penduradas no Twitter informam que parte dos companheiros acha que tem o dever cívico de intrigar o PT com o PSB. Isso pode atrapalhar uma eventual reconciliação de segundo turno. Porém…

Essa ala mais passional do petismo não admite raciocinar apenas em termos práticos. Quer apressar a partilha dos bens. Acha que o PSB deve sair do relacionamento com a roupa do corpo. O PT fica com tudo e com o Lula. Que o Eduardo Campos não poderia visitar nem uma vez por mês.

A menção aos "Bornhausens da vida" não foi gratuita. Nos últimos dias de agosto, quando Marina Silva (Rede) ainda não havia caído nos seus braços, Eduardo Campos filiou ao PSB de Santa Catarina o deputado federal licenciado Paulo Bornhausen, ex-DEM e ex-PSD.

Paulinho, como os amigos o chamam, é filho de Jorge Bornhausen, um ex-cacique do DEM que, em 2005, nas pegadas do escândalo do mensalão, previra um futuro sinistro para o PT: "A gente vai se ver livre desta raça por, pelo menos, 30 anos."

Em 13 de outubro de 2010, ao lado de Dilma, então candidata à Presidência, Lula deu o troco num comício na cidade de Joinville: "Nós precisamos extirpar o DEM da política brasileira", disse.

Lula acrescentou: "Não quero crer que esse povo extraordinário de Santa Catarina vá pensar em colocar no governo alguém de um partido que alimenta ódio. Alguém de um partido que entrou na Justiça para acabar com Prouni, como o DEM entrou. Nós já aprendemos demais, já sabemos quem são os Bornhausen. Eles não podem vir disfarçados de carneiros. Já conhecemos as histórias deles".

Ao referir-se à família no plural, Lula incluiu, além do patriarca, o filho Paulinho Bornausen, à época líder do DEM na Câmara. O candidato a governador que Lula achava que não merecia o voto dos catarinenses era Raimundo Colombo, um filiado do DEM. Apoiando a candidatura presidencial do tucano José Serra, Colombo prevaleceu na disputa estadual sobre a rival petista Ideli Salvatti.

Por mal dos pecados, Colombo pertence agora ao PSD de Gilberto Kassab. É um feliz apoiador da reeleição de Dilma Rousseff. Foi por essa razão que Paulinho, secretário de Desenvolvimento Econômico do governo Colombo, decidiu sentar praça no PSB de Eduardo Campos. Tinha ojeriza à ideia de acompanhar o governador no apoio ao PT.

Se a política brasileira tivesse lógica, Paulinho teria rompido também com Colombo, deixando sua equipe. Mas como a política no Brasil desobrigou-se de fazer sentido, deu-se coisa diferente. Ao visitar Santa Catarina para entregar a presidência do PSB estadual ao filho do inimigo número um do PT, Campos jantou com os Bornhausen na residência oficial do governador Colombo (repare na foto lá do rodapé).

O tucanato observa com um risinho no canto da boca as contradições do conglomerado governista e as incursões de Eduardo Campos no universo apelidado por Marina Silva de "velha política".

A essa altura, os operadores do PSDB avaliam que Eduardo Campos tem encontro marcado com Aécio Neves no segundo turno. Um pedaço do PSB acha a mesma coisa. Só que aposta no vice-versa. Quanto aos administradores do Twitter do PT, parecem acreditar que tudo se resolverá no primeiro turno.

Eduardo Campos janta com os Bornhausen e Cia. na casa do governador Colombo, apoiador de Dilma

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.