Sem marca, Dilma ‘enverniza’ o Bolsa Família
O Bolsa Família foi instituído pela lei 10.836, sancionada por Lula em 9 de janeiro de 2004. Nesta quarta-feira, com mais de dois meses de antecedência, Dilma Rousseff comandou a festa de aniversário de dez anos do programa. Deve-se a pressa a uma necessidade eleitoral.
A presidente teve parte de sua popularidade pisoteada nas ruas de junho. A golpes de marketing, vem recuperando o prestígio num ritmo mais lento do que desejaria. Sem uma marca pessoal para exibir, enverniza o mais vistoso programa do governo Lula e o leva à vitrine pré-eleitoral com uma promessa nova.
Dirigindo-se ao padrinho, que a guindou em 2010 da condição de "poste" à de presidente, Dilma declarou: "Eu quero reiterar aqui, presidente Lula, o Bolsa Família vai existir enquanto houver uma só família pobre nesse país." Lula também foi ao microfone na festa de aniversário antecipado. Ele voltou a pespegar a pecha de preconceituosos nos críticos que associam o Bolsa Família à preguiça, cada vez mais escassos.
"O que essa crítica denota é uma visão extremamente preconceituosa no nosso país. Significa dizer que a pessoa é pobre por indolência, e não porque nunca teve uma chance real em nossa sociedade. É tentar transmitir para o pobre a responsabilidade pelo abismo social criado pelos que sempre estiveram no poder em nosso país."
A solenidade oficial confunde-se com a coreografia eleitoral. Há seis dias, Lula recitava a mesma tese na propaganda partidária do PT: "…Tem políticos que até hoje defendem cortar as verbas do Bolsa Família. São os mesmos que ficam falando que é preciso oferecer porta de saída. Como se o Bolsa Família já não fosse uma grande porta de saída da miséria, e a grande porta de entrada para o futuro melhor."
Paradoxalmente, os dois principais antagonistas de Dilma oferecem a matéria para que o marqueteiro do PT, João Santana, recicle o Bolsa Família, introduzindo-o no enredo de 2014. As últimas declarações dos presidenciáveis Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) foram recebidas pelo petismo como oportunidades a serem aproveitadas. Tenta-se envolver o eleitor pobre numa atmosfera de medo. O medo de que, sem Dilma, o benefício mensal vá para o beleléu.
No discurso de Aécio, o Bolsa Família carrega "o DNA do PSDB", já que nasceu de uma junção de iniciativas adotadas sob FHC (Bolsa Alimentação, Bolsa Escola e Vale Gás). Coisa boa, portanto. Mas ele acusa o governo petista de "se contentar com a administração da pobreza". E promete concentrar-se na "superação da pobreza."
Quanto a Eduardo Campos, ele vem dizendo coisas assim: "Hoje, vemos as filhas do Bolsa Família serem mães do Bolsa Família. Vamos assistir elas serem avós? Não queremos isto." O marketing petista joga as frases de Aécio e de Campos no liquidificador e serve à plateia um suco de dúvidas. Com outras palavras, o que Lula e Dilma informam ao eleitor pobre é o seguinte: só o PT no Planalto lhe oferece a segurança do recebimento do benefício.
Se colar, a pecha de inimigo dos pobres pode produzir grande estrago eleitoral. Hoje, 13,8 milhões de famílias recebem o benefício. Ampliando-se o campo de visão, pode-se dizer que o Bolsa Família alimenta mais de 50 milhões de bocas. Na conta da ministra Tereza Campello (Desenvolvimento Social), cada R$ 1 investido no programa tem um impacto de R$ 1,78 sobre o PIB.
Orientada por João Santana e empurrada por Lula, Dilma atravessa no caminho de Aécio Neves e Eduardo Campos a mesma macumba que levou o tucano José Serra, o adversário de 2010, a prometer um risível 13º para a clientela do Bolsa Família e a fazer pose de pai do programa no horário eleitoral (repare no vídeo abaixo).
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