Campos afirma suspeitar que Aécio pode desistir
Tomado pelo que diz em suas conversas privadas, o presidenciável do PSB, Eduardo Campos, só leva a sério a candidatura presidencial do tucano Aécio Neves até certo ponto. O ponto de interrogação. Campos declarou a vários interlocutores que não exclui de suas análises a hipótese de Aécio desistir de disputar o Planalto.
A partir do relato de três pessoas que ouviram o raciocínio de Campos, verifica-se que suas dúvidas misturam-se a um certo otimismo quanto ao próprio desempenho, e a uma torcida, só confessada longe dos refletores, para que José Serra prevaleça sobre Aécio na disputa pela vaga de representante do PSDB na sucessão de 2014.
A parceria com Marina Silva deu a Eduardo Campos uma autoconfiança que o fez perder a falsa modéstia. Nós vamos ganhar essa eleição, diz ele entre quatro paredes. Alçado ao patamar de 15% no último Datafolha, Campos prevê que, em algum momento, ultrapassará Aécio, que aparece na mesma pesquisa com 21%.
Nesse instante, segundo os vaticínios de Campos, Aécio passaria a considerar a alternativa do recuo. O que leva os interlocutores do candidato do PSB a enxergar um quê de desejo nas suas antevisões é o fato de ele considerar que os altos índices de rejeição fazem de Serra um oponente menos duro de roer do que Aécio.
Paradoxalmente, as considerações de Campos coincidem com uma fase em que Aécio exibe crescente disposição para o enfrentamento. No PSDB, de Fernando Henrique Cardoso ao porteiro, todos já o enxergam como candidato da legenda. Serra é visto como estorvo, não como alternativa.
Presidente do partido, Aécio consolidou-se até entre alguns dos tucanos mais próximos a Serra. Em privado, FHC realça que, hoje, Serra não dispõe do apoio de nenhum diretório estadual do PSDB. Avalia que nem mesmo o diretório de São Paulo se animaria a confiar-lhe uma terceira candidatura presidencial.
A despeito de não encontrar amparo na realidade, as dúvidas de Eduardo Campos produzem consequências políticas. Há 15 dias, ele cogitava acelarar, em São Paulo, a costura de uma parceria com o governador tucano Geraldo Alckmin, candidato à reeleição. De repente, pisou no freio.
Um dos motivos que Campos invoca é a necessidade de ter segurança de que Serra é mesmo carta fora do baralho sucessório. Acha que, se for ele o candidato do PSDB, pode ser mais vantajoso para o PSB montar um palanque próprio em São Paulo. A outra razão para o retardamento é o nariz torcido de Marina Silva.
No domingo passado, em reunião com Marina, Campos ouviu dela a sugestão de que o PSB dispute os governos dos três maiores colégios eleitorais do país —São Paulo, Minas Geral e Rio de Janeiro— com candidatos novos, evitando acertos convencionais. A conversa ocorreu na casa do deputado Walter Feldman, um correligionário de Marina que gostaria de concorrer ao governo paulista.
Embora Campos tenha feito ponderações em contrário, a conversa foi inconclusiva. A depender da vontade do diretório do PSB em São Paulo, a possibilidade de Feldman disputar o Palácio dos Bandeirantes pela legenda é nula. Dá-se preferência ao acerto com Alckmin.
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