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Josias de Souza

FHC critica ministro por frase sobre black blocs

Josias de Souza

03/11/2013 18h41

Eduardo Knapp/Folha

Em artigo veiculado em vários jornais neste domingo (3), o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, principal liderança do PSDB, criticou a posição do ministro petista Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência) sobre os black blocs.

"Temos assistido ao encolhimento do Estado diante da fúria de vândalos, aos quais aderem agora facções do crime organizado", escreveu FHC. "Por isso é de lamentar que o secretário-geral da Presidência se lamurie pedindo mais 'diálogo' com os black blocs, como se eles ecoassem as reivindicações populares."

Para FHC, os vândalos de rostos cobertos "expressam explosões de violência anárquica desconectada de valores democráticos, uma espécie de magma de direita, ao estilo dos movimentos que existiram no passado no Japão e na Alemanha pós-nazista."

Na última terça-feira (29) Gilberto Carvalho dissera que o vandalismo não será contido apenas com repressão. "Um dos problema é essa dificuldade de ter interlocutores que possam e que queiram inclusive dialogar. Que a linguagem aparente —e insisto, aparente— é muito da destruição, da negação. Agora, nós precisamos de alguma forma ter uma ponte, nós estamos buscando com muita força esse diálogo, para que a gente possa achar uma saída eficaz. A repressão é necessária, mas só reprimir não vamos resolver na profundidade o problema. É como nas manifestações de junho."

Gilbertinho, como é chamado na intimidade, insinuara que, antes de criminalizar, é preciso entender os black blocs: "Trata-se de um fenômeno social que nós, para podermos ter uma atuação eficaz, nós temos de ter um diagnóstico mais preciso. Nos falta até agora esse diagnóstico mais preciso. Estamos acelerando isso, estamos em diálogo com a polícia, com as autoridades dos Estados, estamos buscando e também com a sociedade, com movimentos juvenis. Porque a simples criminalização imediata, ela não vai resolver."

Na opinião de FHC o que falta não é diálogo, mas autoridade. Ele lamenta que "atos violentos da própria política" por vezes inibam uma percepção necessária —a noção de que "nem toda ação coercitiva da polícia ultrapassa as regras da democracia. Pelo contrário, se nas democracias não houver autoridade legítima que coíba os abusos, esses minam a crença do povo na eficácia do regime e preparam o terreno para aventuras demagógicas de tipo autoritário."

Serviço: o artigo de FHC pode ser lido aqui. No texto, ele trata de outras "notícias da semana". Entre elas as investidas do Estado contra a imprensa na Argentina e contra a oposição na Venezuela. Aqui, notícia sobre as posições de Gilberto Carvalho.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.