Atacado por Haddad e mimado por Lula, Kassab tira nexo da aliaça pró-Dilma
O prefeito e o ex-prefeito de São Paulo consideram-se um ao outro no mínimo incompetentes e no máximo desonestos. No último final de semana, Fernando Haddad e Gilberto Kassab roçaram a fronteira do rompimento.
"A situação era a pior possível do ponto de vista ético. Havia uma degradação. Nichos instalados e empoderados. Havia uma percepção de degradação", disse Haddad sobre a herança recebida de Kassab, que incluiu uma máfia de fiscais.
"Ele só esqueceu de olhar para o próprio umbigo, para sua administração, quando a cidade está espantada com o descalabro desse primeiro ano", respondeu Kassab, antes de recordar que, na gestão petista de Marta Suplicy, Haddad foi chefe de gabinete da Secretaria de Finanças da prefeitura, ninho dos fiscais corruptos.
O senso comum indica que, depois desses comentários, o PT de Haddad tomaria distância do PSD de Kassab. E vice-versa. Pois não é que Lula, padrinho do "descalabro", trocou afagos com a "degradação" para certificar-se de que o PSD e seu tempo de tevê estarão presentes na coligação de Dilma Rousseff?!?
Caso parecido com esse foi o da nomeação de Guilherme Afif Domingos (PSD). Em 2010, Afif disse que Dilma "não tem biografia política para comandar o país." Acomodá-la na Presidência seria "a mesma coisa que entregar um boeing para quem nunca pilotou um teco-teco." Em maio passado, acomodado por Dilma no 39º assento do teco-teco, Afif tornou-se passageiro de segunda classe.
Foi graças a esse tipo de coreografia que as ruas de junho expulsaram as bandeiras de partidos. Lula já disse que o repúdio às legendas partidárias resulta em fascismo. Mas parte da rapaziada nem sabe o que é isso. Apenas tenta fugir do papel de cúmplice.
No domingo, antes de sair para votar nas eleições internas do PT, Dilma Rousseff ecoou seu padrinho no Twitter: "Ao longo da história, a idéia da política sem partidos esteve sempre ligada à defesa de governos autoritários e elitistas."
No mesmo dia, Lula resumiu em entrevista um dos desafios dos "novos" dirigentes do PT: "O partido precisa voltar a fazer um discurso mais para a juventude." Disse isso sob refletores. Nos subterrâneos, agia para apaziguar os ânimos de Kassab.
Confrontado com os conchavos do porão, o lero-lero entoado no térreo por Dilma e Lula perde o nexo. Serve apenas para potencializar a crença, já tão disseminada, de que a política é o território da farsa. Arrisca-se a fazer papel de bobo quem levar seus protagonistas a sério.
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