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Josias de Souza

Lula defende Haddad e liga Kassab à corrupção

Josias de Souza

22/11/2013 05h56

Ricardo Stuckert/Instituto LulaA pretexto de defender o prefeito petista de São Paulo, Fernando Haddad, Lula atacou o antecessor dele na prefeitura, Gilberto Kassab. Vinculou-o à máfia de fiscais que desviou dos cofres municipais R$ 500 milhões em arrecadação de ISS. Fez isso um dia depois de o PSD de Kassab ter formalizado seu apoio à reeleição de Dilma Rousseff.

Lula discursava para uma plateia de prefeitos e lideranças petistas, em Santo André. A alturas tantas, criticou o modo como "uma parte dos meios de comunicação desse país" trata o PT. Disse que, por "má-fé", a imprensa difunde inverdades sobre a gestão Haddad. Deu dois exemplos. Em ambos deixou mal Kassab, o neoaliado de Dilma.

1. "…Muitas vezes, a gente fica percebendo algumas malícias, coisas absurdas", disse Lula, olhando para o prefeito petista. "O Fernando Haddad monta uma Controladoria. A Controladoria levanta um processo de corrupção na prefeitura. Se você não tomar cuidado, a ideia que eles estão querendo passar é a de que a corrupção aconteceu no teu governo e não no governo que você sucedeu."

2. "…Um dia desses vi um jornal, não vou fazer merchandising deles, que tinha uma manchete tão grande assim: 'Prefeito sabia de tudo'. E não dizia quem era o prefeito. Passava uma ideia de que era o Haddad que sabia de tudo, quando na verdade era o ex-prefeito que sabia de tudo."

O que Lula disse, com outras palavras, foi que Dilma acaba de receber o apoio de um partido, o PSD, que tem como presidente um político que comandava na prefeitura de São Paulo uma máquina corrupta. Sabia de tudo. Mas foi preciso que Haddad criasse uma Controladoria para que a podridão viesse à tona.

"É importante que a gente fique atento", lecionou Lula aos prefeitos petistas. "Se alguém do PT desviar um tostão, eles darão uma manchete maior do que alguém do outro lado que rouba um milhão. É importante a gente ter claro que não haverá trégua."

Lula se absteve de dizer que, entre os personagens encrencados no escândalo do ISS paulistano, o mais graúdo é, por ora, o recém-afastado secretário de Governo de Haddad, o vereador petista Antonio Donato. O nome dele soou de ponta-cabeça em diálogos vadios captados por grampos da PF e em depoimento de um dos fiscais encalacrados.

No mesmo discurso, Lula dirigiu críticas indiretas ao presidente do STF, Joaquim Barbosa; pediu respeito à biografia dos petistas presidiários; disse que a resposta às críticas será a reeleição de Dilma Rousseff; e renovou o apoio à candidatura do ministro Alexandre Padilha (Saúde) ao governo de São Paulo.

Lula recordou que, em disputas anteriores, o PT já obteve até 35% dos votos do eleitorado de São Paulo. "Para ganhar, precisamos de 50% mais um. Esses 20% que faltam não estão no PT, no PCdoB, nos partidos de esquerda. São eleitores] paulistas que estão por aí, espalhados no Estado. Muitas vezes têm medo do PT, ainda acreditam nas coisas que a imprensa fala do PT."

Para ampliar o seu cesto de votos, ensinou Lula, o candidato do PT precisa ser um grande compositor. Terá de compor com todo mundo. "Sua tarefa, Padilha, é ser um pouco mais amplo do que nós fomos. Procurar conversar com os partidos. Não os de esquerda, que esses já estão conosco. Mas com os partidos de centro-esquerda, de centro-direita, porque os eleitores não têm ideologia."

Quer dizer: conforme os parâmetros de Lula, o companheiro Padilha tem de se aliar a Deus e ao diabo. Se Gilberto Kassab, o ex-prefeito que "sabia tudo", se dispuser a apoiá-lo, Haddad deve abraçá-lo como quem abraça um ente querido.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.