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Josias de Souza

Lula insinua que STF vazou prisões para Globo

Josias de Souza

22/11/2013 04h33

Em discurso para prefeitos do PT, Lula criticou na noite passada a forma como Joaquim Barbosa executou as primeiras sentenças do mensalão. Sem mencionar o nome do presidente do STF, ele disse: "O que nós queremos é que a decisão seja cumprida tal como ela foi determinada e não pela vontade de alguém." A certa altura, Lula insinuou que, além das ordens de prisão, o Supremo providenciou os holofotes.

Voltando-se para o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), que compunha a mesa, Lula declarou: "Fui informado, não sei se é verdade, Suplicy, acho que vocês deveriam se informar, que a Globo recebeu a informação antes da Polícia Federal. Se isso aconteceu é muito grave." Lula não esclareceu como teria sido "informado".

Foi a primeira vez que Lula falou sobre a execução fatiada das condenações dos mensaleiros. Entre eles os petistas José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares. Na quinta-feira da semana passada, um dia antes das prisões, ele controlara a língua ao ser questionado sobre o tema: "Quem sou eu para fazer qualquer julgamento ou insinuação sobre a Suprema Corte?".

No discurso que dirigiu aos prefeitos petistas, na cidade paulista de Santo André, Lula julgou e insinuou abertamente. Falou por 33 minutos (ouça lá no rodapé). Ecoando os correligionários que se queixam da demora em assegurar a Dirceu, Genoino e Delúbio as regalias do regime semiaberto, Lula evocou a lei e a biografia dos presos.

"Nós temos companheiros condenados, tem uma sentença dada. A pena de cada companheiro está determinada já. O que não pode é tentar tripudiar em cima da condenação das pessoas sem respeitar o histórico das pessoas e a lei. Tem uma lei, tem uma decisão. E o que nós queremos é que a decisão seja cumprida tal como ela foi determinada e não pela vontade de alguém."

Foi nesse ponto do discurso que Lula fez a insinuação de que a Polícia Federal, incumbida de executar as ordens de prisão, só soube dos mandados expedidos por Barbosa depois que a notícia já havia chegado à TV Globo. Na sequência, o orador deu a entender que a balança da Justiça está desregulada.

"Para nós, todo e qualquer cidadão deve ser inocente até prova em contrário. Na hora que provar a culpabilidade, puna quem quer que seja, meu parente ou meu adversário. A lei é para todos. Isso vale para nós e vale para eles. Agora, me parece que a lei só vale para o PT." Foi como se Lula aderisse às queixas do petismo quanto à postergação do julgamento do processo do mensalão do PSDB mineiro, que também tramita no STF.

Lula prosseguiu: "Nós precisamos ter coragem de fazer esse debate político no momento certo." Deu a entender que a hora propícia será 2014. "A resposta que a gente vai dar para eles é garantir o segundo mandato da companheira Dilma Rousseff. […] E o segundo ato, sem ficar nervoso, é eleger esse caboco aqui governador do Estado de São Paulo", arrematou, lançando olhares para o ministro Alexandre Padilha (Saúde).

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.