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Josias de Souza

Câmara adia para 2014 direitos de domésticas

Josias de Souza

11/12/2013 06h40

Foi numa crônica de Fernando Sabino —'O Império da Lei', de 1962— que surgiu pela primeira vez a tese de que no Brasil as leis são como vacinas. Umas pegam. Outras, não. No momento, nem a Constituição pega integralmente. Promulgada ao som de trombetas em 2 de abril, a chamada PEC das Domésticas, emenda constitucional que equiparou os direitos dos empregados domésticos aos dos demais trabalhadores, revelou-se uma vacina fraca.

Para sair do papel, a extensão dos direitos trabalhistas aos domésticos depende da aprovação de uma lei que os regulamente. O Senado já aprovou (leia resumo na ilustração do rodapé). Deu-se em 11 de julho. O texto foi enviado à Câmara. Já lá se vão cinco meses. E nada de votação. Na última segunda-feira (9), uma conversa telefônica de Dilma Rousseff com o deputado Henrique Eduardo Alves eliminou as últimas esperanças de que a nova lei pudesse ser votada ainda em 2013.

Dilma tocou o telefone para o presidente da Câmara antes de embarcar para os funerais de Nelson Mandela, na África do Sul. Era aniversário de Henrique. Depois de ouvir os 'parabéns', o deputado pediu um presente. "Qual?", quis saber Dilma. O interlocutor encareceu que a presidente retirasse o selo de urgente de um lote de projetos enviados pelo Executivo ao Legislativo.

Quando um projeto tramita sob o signo da urgência constitucional, obstrui o trabalho do plenário se não for votado. Henrique explicou para Dilma que gostaria de liberar a pauta da Câmara para votar propostas de grande apelo popular. Entre elas o projeto de lei que regulamenta os direitos dos empregados domésticos.

Dilma respondeu que não pode retirar a urgência do projeto do marco civil da internet. Por quê? Ela alega que mencionou a novidade em discurso que fez na ONU. Acha que vai ficar mal com a "comunidade internacional". Como não há consenso em relação à regras da internet, nenhum outro projeto será votado na Câmara em 2013.

Assim, foi adiada para 2014, sem uma data especíifica, a prometida alforria dos trabalhadores domésticos. Excetuando-se a jornada de trabalho, agora limitada a 44 horas semanais e oito diárias, todos os outros direitos dependem de regulamentação —do FGTS ao seguro desemprego.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.