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Josias de Souza

Sem a ‘herança maldita’, Dilma perdeu o nexo

Josias de Souza

11/12/2013 17h07

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A caminho de completar 14 anos no poder federal, o PT já não pode invocar a "herança maldita" do passado recente para justificar as mazelas do presente. A falta dessa muleta retórica começa a tirar do prumo o discurso de Dilma Rousseff.

Nesta quarta-feira (11), a presidente discursou na abertura do 8º Encontro Nacional da Indústria. A alturas tantas, disse que vai priorizar as concessões de ferrovias à iniciativa privada em 2014.

Dilma disse acreditar que é "essencial para o Brasil investir em parceira com o setor privado num sistema ferroviário de porte nacional." Para ela, "é inadmissível que um país de dimensões continentais não tenha esse investimento."

Língua em riste, a presidenta arrematou: "É imperdoável não termos feito, nos dois séculos anteriores —final do século 19 e em todo o século 20. Mas o século 21 exigirá necessariamente, pela dimensão do Brasil, um sistema ferroviário de porte internacional."

Dilma parece ter perdido o nexo. É como se tivesse se desobrigado de fazer sentido. Renderia homenagens à lógica se informasse à plateia por que não priorizou as parcerias ferroviárias nos seis anos em que foi a "mãe do PAC" do governo Lula. Faria ainda melhor se explicasse como se perdoou por não ter iniciado nos dois primeiros meses de seu governo a recuperação do "imperdoável" atraso dos "dois séculos anteriores".

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.