Topo

Josias de Souza

Contra o clã Sarney, candidato do PCdoB negocia frente com PSDB e PSB no MA

Josias de Souza

30/01/2014 06h00

.
O presidente da Embratur, Flávio Dino, tornou-se a personificação do paradoxo. Adversário político da família Sarney, Dino está subordinado ao ministro Gastão Vieira (Turismo), um apadrinhado do patriarca José Sarney. Na semana que vem, trocará o cargo que ocupa no governo de Dilma Rousseff por um projeto que tem como potenciais parceiros Aécio Neves e Eduardo Campos, os dois principais antagonistas da presidente.

Filiado ao PCdoB, uma logomarca que vem sempre enganchada ao PT, Dino se equipa para disputar o governo do Maranhão sem o apoio de Lula, Dilma e do petismo federal. Em entrevista ao blog, ele definiu como "um bom namoro" o esforço que realiza para atrair o PSDB e o PSB para sua coligação. Se a coisa evoluir para o "casamento", como espera, Dino vai franquear seu palanque estadual a Aécio e Campos, os rivais de Dilma. "Serei um bom anfitrião de ambos", declara.

O repórter perguntou a Dino por que Lula e Dilma preferem apoiar o candidato a ser indicado pelos Sarney a optar pelo nome do PCdoB. E ele: "…Não consigo crer que o presidente Lula ou a presidenta Dilma, com o conhecimento que têm da realidade do Estado, ignorem que esse regime político que lá está deve ser superado. Tenho certeza que os dois acham isso. Agora, qual vai ser a atitude concreta durante a campanha realmente eu não sei."


Dino diz não ter desistido de incorporar o PT à sua caravana. Ele idealiza para o Maranhão algo que sucedeu no Acre em 1998. "Quando foi para derrotar o crime organizado, representado na ocasião pelo Hildebrando Pascoal e as forças políticas que ali se aglutinavam, houve uma aliança PT-PSDB, que levou à eleição do hoje senador Jorge Viana (PT)."

Não é um exagero comparar Roseana Sarney e o pai dela a Hildebrando Pascoal, o ex-deputado federal que se notabilizou por passar suas vítimas nas armas e na motosserra? Não, Dino não considera exagerada a comparação. "São modelos que concentram poder na mão de poucos e exercem esse poder às vezes com métodos que são ilegais. Esse é o sentido da comparação", diz ele.

Dino prosseguiu: "Infelizmente, o Estado democrático de direito ou os valores da República não chegaram totalmente aos corredores do poder no Maranhão. Então, práticas ilegais são muito rotineiras lá. É esse o sentido da comparação. Há um pequeno grupo que concentra poder e riqueza e que mantém esse poder ilegalmente. Por isso é preciso uma ampla união de forças que tenham aptidão, vontade e coragem para enfrentar esse sistema de poder."

Bem posto nas sondagens eleitorais, Dino se refere ao PT com uma ponta de ironia: "Assim como na Bíblia está registrado que ninguém serve a dois senhores, é preciso que o PT, afinal, trilhe o seu caminho [no Maranhão]. Enquanto isso, nós estamos buscando as composições com as forças locais que possam nos ajudar."

O que ocorreria na cena federal se o PT do Maranhão rompesse com a família Sarney? "Tudo poderia acontecer, inclusive nada", afirma Dino. "Acho que, mais provavelmente, nada." O repórter insistiu: o senador Sarney não soltaria marimbondos de fogo? "Certamente não". Para Dino, Sarney tem tantos interesses a defender no poder federal que "valorizaria esses interesses acima do mal-estar" maranhense.

Dino deixará a Embratur sem conseguir devolver para patamares razoáveis os preços a serem cobrados pelos hotéis brasileiros durante a Copa do Mundo. Desde o ano passado, a pasta do Turismo estima que os preços das diárias hoteleiras sofrerão variações de até 580%. "Creio que nós conseguimos evitar uma expansão ainda maior nos preços", diz o ainda presidente da Embratur. Ele avalia que a situação "pelo menos não piorou". Dino culpa a Fifa pelo descalabro.

"Foi o modelo de negócios adotado pela Fifa e pela Match [agência operadora da Fifa] que levou a uma escassez de apartamentos disponíveis no mercado. A Match se antecipou, fez contratos a preços muito altos com as redes hoteleiras. Contratou os apartamentos por 70% da tarifa-balcão, que nós sabemos que é uma tarifa irreal, que não é praticada. Sobre essa tarifa, a Match colocou a sua taxa de intermeidação. Em alguns casos superior 40% sobre o valor do aopartamernto. Eles balizaram o preço para cima."

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.