Política econômica inaugura a etapa São Tomé
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O governo reajustou suas metas econômicas para 2014. Promete entregar um superávit de 1,9% do PIB. Para chegar lá, jura que economizará R$ 99 bilhões. Num esforço para provar que fala sério, Brasília assegura que passará na faca despesas de R$ 44 bilhões. Os ministros Guido Mantega (Fazenda) e Miriam Belchior (Planejamento) pedem a você e a todo o mercado que acreditem no governo. É como se dissessem: Vamos lá, gente. Agora é sério!
Nessas coisas de crença, a credibilidade de quem pede o voto de confiança conta muito. E o histórico do governo, convenhamos, não o credencia. Por isso, todo mundo olha para a Capital da República de esguelha e pisa a conjuntura de mansinho, que é pra não enfiar espinho no pé. No último ano do primeiro mandato de Dilma Rousseff, a economia vive a sua fase São Tomé. É preciso ver primeiro.
Os economistas não gostam da comparação. Mas, no fundo, suas previsões têm funcionado como profecias de videntes. A teoria econômica e a bola de cristal estão sempre certas. As pessoas é que não se comportam como o previsto. O governo mobiliza seus técnicos mais talentosos. Eles enfiam o imponderável dentro das previsões mais precisas. Daí vem o ser humano, com seus apetites e caprichos, e põe tudo a perder.
O governo alterou sua previsão de crescimento econômico para 2014. Anuncia agora que o PIB será vitaminado em 2,5%. Na proposta de Orçamento que enviara ao Congresso, a equipe de Dilma previra 4%. Desconfiados, deputados e senadores reduziram para a previsão para 3,8%. Ou seja: os 2,5% anunciados agora representam uma espécie de cavalo-de-pau estatístico. A recuperação da economia mundial está sendo mais lenta do o previsto, justificou Guido Mantega.
O ministro declara que suas novas projeções são confiáveis. Por quê? "Fomos moderados na intenção da receita e realistas nas despesas." Ouvidos semanalmente pelo Banco Central, os videntes de empresas e instituições financeiras levam o pé atrás. Na última pesquisa Focus, realizada pelo BC, a mediana das previsões de crescimento ficou em 1,79%.
Quer dizer: se o mercado estiver certo, todas as previsões do governo estarão erradas. Com um crescimento menor, o fisco arrecadará menos. Com a receita reduzida, Mantega e Miriam terão de cortar mais despesas se quiserem de fato ser levados a sério. De novo, o passado recente intima São Tomé. Para 2013, prometra-se um superávit de 3,1% do PIB. Depois, informou-se que seria de 2,3%. No final, entregou-se 1,9% —percentual agora convertido em meta "realista" para 2014.
Mantega fala com a segurança de quem apertou todos os botões certos. Ele confia no comportamento das pessoas. E na boa vontade dos céus. Agora mesmo, os técnicos da Fazenda queimam as pestanas para calcular quanto vai custar ao Tesouro o rombo provocado pelo uso das usinas térmicas. Elas foram acionadas em sua capacidade máxima para compensar a falta de chuvas que esvaziou os reservatórios das hidrelétricas. Foram reservados no Orçamento R$ 9 bilhões. Mas dá-se de barato que o custo será vem maior.
Não podendo contar com Dilma, que prometeu baratear a conta de luz e não quer se desdizer nem aconselhar o eleitorado a reduzir o consumo (ah, essas pessoas!), Mantega acende uma vela para São Pedro e faz a dança da chuva. De resto, pergunta aos seus botões: se não chover, o brasileiro vai poupar energia, vai continuar gastando? A presidenta vai deixar que o excedente seja repassado para a conta de luz? Se repassarmos, o Aécio Neves cresce nas pesquisas?
Como se vê, não dá para avaliar o desempenho da economia sem o auxílio de São Tomé. Do jeito que a coisa anda, é preciso ver primeiro até para descrer. Nada que tire o sono dos economistas do governo. Eles fizeram a parte deles. Mas é preciso verificar como irão se comportar a Dilma e esses outros seres imprevisíveis que são as pessoas. Se der tudo errado, a culpa não será da equipe de Mantega. Melhor assim. Os economistas, como os videntes, logo terão de se ocupar de 2015. E ninguém acreditaria nas estimativas e nas metas do próximo ano se eles não tivessem uma reputação inabalável.
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