Aliados querem impor nova derrota a Dilma hoje
Derrotada por seus próprios aliados na Câmara, Dilma Rousseff exalava mau humor na noite passada. De volta do Chile, onde testemunhou a posse da colega Michelle Bachellet, ela falava em "retaliar" os silvérios governistas que deram 158 dos 267 votos favoráveis à criação da comissão de deputados que investigará suspeitas de corrupção na Petrobras. Ficou mais sobressaltada ao ser informada de que é grande a chance de o governo arrostar nova derrota nesta quarta-feira, na votação do projeto que cria o marco civil da internet —uma das prioridades do governo.
Dilma programou para o final da manhã desta quarta (12) uma aparição pública. Em cerimônia no Planalto, vai assinar contratos de concessão à iniciativa privada de três rodovias federais. Ao ser informado sobre esse pedaço da agenda presidencial, um dirigente do PMDB declarou, entre irônico e alarmado: "Soube que ela já retornou do Chile. Torço para que tenha voltado também à realidade. Uma nova declaração enviesada pode proporcionar muitas alegrias à presidente na Câmara."
O cacique peemedebista se referia ao comentário jocoso que Dilma fizera em Santiago, capital chilena, numa conversa com jornalistas. "O PMDB só me dá alegrias", ela dissera, entre risos, horas antes de os deputados empurrarem para dentro de sua biografia algo muito parecido com um Waterloo legislativo. Sob o compromisso do anonimato, o aliado de Dilma, que se autodefine como "bombeiro", acrescentou: "A presidente demora muito a acordar. Com isso, estica o pesadelo."
Longe da azáfama basiliense e sem receio de mostrar a cara, Geddel Vieira Lima, primeiro-secretário da Executiva Nacional do PMDB, plugou-se ao Twitter para resumir os efeitos do comportamento de Dilma: "A Câmara aprovou comissão externa para apurar propinas na Petrobras. Olha o PMDB dando alegrias à presidente." Em verdade, o PMDB do líder Eduardo Cunha, aquele que Dilma prometera "isolar", não é a única fonte de "alegrias" do governo.
Encerrada a primeira batalha, que vitimou a Petrobras, um revigorado líder da oposição foi sentir o pulso de Eduardo Cunha. Encontrou-o junto com Henrique Eduardo Alves. O líder do PMDB reiterou a decisão de sua bancada de votar contra o projeto que institui regras para a internet. E o presidente da Câmara, que costuma ser comedido em suas previsões, disse que o cenário é de grande adversidade para o governo na nova votação.
A ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais), cujas atribuições ficaram um tanto esvaziadas desde a chegada de Aloizio Mercadante à Casa Civil da Presidência, esteve na Câmara nesta terça. Ouviu vários líderes governistas, a maioria com a lealdade ao governo já bem cansada. A ministra farejou a mesma percepção adversa que Henrique Alves dividiu com o líder da oposição.
Na visão de Ideli, expressada no Planalto, o melhor que o governo teria a fazer no momento é tentar adiar a apreciação do projeto da internet. Além de evitar a nova derrota anunciada, ganharia tempo para esfriar o caldeirão. O problema é que a proposta já se encontra na pauta de votações. A prevalecer o entendimento de Ideli, o governo teria de encontrar no regimento da Câmara ferramentas que lhe permitissem construir o dique. Em último caso, pode tentar obstruir a sessão.
De resto, os operadores de Dilma terão de gastar baldes de saliva para convencer os pseudoaliados a topar o adiamento. O pedaço sublevado do bloco governista desenvolveu uma enorme ojeriza pelo projeto do marco civil da web. Enviada pelo Planalto com o selo da urgência constitucional, a peça tem preferência sobre as demais. Como não obteve consenso, tranca a pauta desde outubro de 2013.
Acumulam-se na fila do plenário vários projetos que os deputados, acossados pelo calendário eleitoral, desejam votar para dar alegrias à opinião pública. Entre eles, por exemplo, o que transforma a corrupção em crime hediondo e o que regulamenta os direitos sociais e trabalhistas das empregadas domésticas. Daí o desejo coletivo de retirar o marco civil da internet do caminho, rejeitando-o.
Ainda que consiga adiar a encrenca, o governo não estará inteiramente a salvo dos seus aliados. Há nas comissões da Câmara 17 requerimentos da oposição convocando ministros e autoridades do governo para prestar esclarecimentos sobre um sem-número de encrencas. O PMDB e seus parceiros do 'blocão' decidiram ajudar a oposição a aprovar alguns deles. Formou-se, por exemplo, uma densa maioria a favor de submeter o ministro da Saúde, o petista Arthur Chioro, a uma boa inquirição sobre as condições de trabalho dos profissionais importados de Cuba para atuar no programa Mais Médicos.
Líder do DEM, o deputado Mendonça Filho (PE) esfregava as mãos na noite passada. Não sabia dizer quantos nem quais requerimentos serão aprovados. Mas festejava as novas perspectivas: "Nesse ambiente de estouro de boiada que se estabeleceu na Câmara, tudo pode acontecer", disse.
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