Na marra, Dilma negocia tudo com Congresso
Teorias conspiratórias são como crenças religiosas. Os mais céticos não acreditam em tudo. A metafísica geralmente é mais divertida do que o materialismo chato que faz com que o pão seja sempre inapelavelmente pão e o queijo nunca seja nada além disso. As teorias conspiratórias são mais criativas, permeadas de intrigas, tudo muito próximo de um romance.
Acreditar na seriedade de uma grande conspiração dos partidos governistas para prejudiciar Dilma Rousseff, por exemplo, é difícil, mesmo levando em conta tudo o que está em jogo —em termos de cargos, poder e verbas— numa crise como a que sacolejou Brasília nos últimos dias.
Uma presidente que preside 39 ministérios e reclama de fisiologismo é como um capitão de navio que se queixa da existência do mar. Aliados como o PMDB, que ameaçam romper, impõem à crise uma ponderabilidade cômica. É como naquelas brigas de pátio de colégio, em que um menino promete quebrar a cara do outro, mas nunca passa da ameaça.
Infelizmente, quando a diversão atingia o seu ápice, a própria autora da teoria conspiratória passou a conspirar contra o seu romance. Prometera retaliar os partidos amotinados no blocão. Terminou servindo aos fisiológicos mais fisiologia. Dissera que isolaria Eduardo Cunha. Isolada, liberou seus ministros para negociar com o chefe dos amotinados.
Há um mês, Dilma dissera que o veto ao projeto que regulava a criação de novos municípios era inegociável. Agora, leva à mesa um projeto alternativo para fugir da derrubada do veto. Desde outubro de 2013, Dilma se referia a certos artigos da proposta do Marco Civil da Internet como dogmas inquestionáveis. Ao farejar o cheiro de derrota, envia seus ministros à mesa de negociações.
Na marra, meio a contragosto, Dilma vai descobrindo que, sob regime democrático, o Congresso não é um cartório ao qual o presidente se dirige para obter um carimbo. Nesse modelo, o mal maior não está escondido, mas escancarado: é a supercoalizão partidária, uma espécie de mato do qual não sai coelho. Sai jacaré, Sarney, cobra, Renan, hiena, Eduardo Cunha… O conglomerado tornou-se tão imbatível que, quando o melado escorre, a democracia é que fica sob suspeição.
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