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Josias de Souza

Gabrielli enalteceu compra de refinaria: 'nenhuma anomalia',disse no Senado

Josias de Souza

20/03/2014 06h21

Ag.Senado

Presidente da Petrobras na época da compra da refinaria de Pasadena, no Texas, José Sergio Gabrielli foi chamado a dar explicações no Senado há sete meses, quando o negócio já havia se consolidado como um escândalo. Foi inquirido na Comissão de Fiscalização e Controle. Defendeu a operação sem titubeios (veja um trecho aqui).

"Não há por que levantar nenhuma suspeita sobre isso", declarou, quando indagado sobre o prejuízo de mais de US$ 1 bilhão espetado no caixa da Petrobras. Espremido pela bancada da oposição, Gabrielli não fez nenhuma menção à precariedade do parecer —"técnica e juridicamente falho"— que Dilma Rousseff invoca agora para dizer que, se o contrato de compra da refinaria estivesse corretamente esmiuçado, as negociações "seguramente não seriam aprovadas pelo conselho" da Petrobras.

Na versão de Gabrielli, bem distante da de Dilma, o caso é de soltar fogos, não de apresentar desculpas: "É uma refinaria bem localizada, na costa do Texas, na beira do golfo do México, integrada a todos os oleodutos que alimentam o mercado do leste americano e tem espaço para crescer", disse aos senadores. "Sofre efeitos das flutuações de margem que afetam o negócio de refino, mas é um ativo que permanece nas mãos da Petrobras, com grande oportunidade de retorno."

Se a coisa é tão fantástica, por que diabos os órgãos de controle decidiram investigar?, perguntou-se, em 8 de agosto de 2013, a Gabrielli, já deslocado para o cargo que ocupa até hoje, o de secretário de Planejamento do governo da Bahia. E ele: "As investigações que estão anunciadas pelo TCU e Ministério Público tenho certeza de que chegarão à conclusão de que nao houve nenhuma anomalia no comportamento da Petrobras."

Esse cenário edulcorado construído por Gabrielli compunha o enredo oficial da Petrobras. Graça Foster, a sucessora de Gabrielli no comando da Petrobras, tinha levado a encrenca de Pasadena ao freezer. De repente, a nota elaborada por Dilma virou a página do caso. Para trás. "Ninguém entendeu muito bem aonde ela quer chegar com esse sincericídio", disse ao blog, na noite passada, um executivo da Petrobras.  Duas coisas Dilma já conseguiu. Conforme anotado aqui, ela ficou com uma cara de 'ex-Dilma'.

Editoria de Arte/Folha

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.