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Josias de Souza

Petronovidade: criado o aviso prévio de 6 anos

Josias de Souza

21/03/2014 21h27

Como no caso do Ronaldo na final da Copa de 1998, o país jamais saberá o que realmente aconteceu com a supergerente Dilma Rousseff na reunião em que o Conselho de Administração da Petrobras aprovou a compra da refinaria obsoleta de Pasadena, no Texas.

Os amigos deveriam ter convocado o doutor Lídio Toledo. Com  a experiência que tinha no caso anterior, o ex-médico da Seleção Brasileira talvez impedisse Dilma de entrar em campo ao perceber que, diante de um processo administrativo com centenas de páginas, ela tomaria sua decisão com base num reles "resumo executivo" do diretor Internacional Nestor Cerveró.

Há três dias, ao saber que o Estadão descobrira o vexame que ela dera no verão passado, Dilma divulgou uma nota atribuindo ao documento de Cerveró, "técnico e juridicamente falho", o aval à aquisição do mico texano, em 2006. Dilma alega que só em 2008 soube que o documento omitia cláusulas tóxicas do contrato. Cláusulas que forçaram a Petrobras a enterrar US$ 1,2 bilhão na refinaria texana.

Nessa época, Dilma era presidente do conselho da Petrobras e chefe da Casa Civil de Lula. Com um peteleco, mandaria Nestor Cerveró para o olho da rua. Deu-se, porém, algo inusitado. Indicado pelo PT e avalizado pelo PMDB —ou vice-versa— Cerveró caiu para o alto. Migrou da diretoria Internacional da Petrobras para a diretoria Financeira da subsidiária BR Distribuidora em março de 2008. Em janeiro de 2011, Dilma foi à cadeira de Presidente da República. E nada.

Só nesta sexta-feira (21), com Dilma já pendurada nas manchetes como ex-Dilma, Nestor Cerveró foi exonerado pelo conselho de administração da distribuidora da Petrobras. O governo inventou uma excentricidade: o aviso prévio de seis anos. O que foi feito daquela Dilma eficiente e implacável? O Brasil nunca saberá.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.