Dilma tornou-se a principal adversária de Dilma
Dilma Rousseff desempenha no momento um estranho papel. Tornou-se a principal fornecedora da matéria prima usada na composição dos discursos de Aécio Neves e Eduardo Campos. Curiosamente, Dilma entrega aos seus antagonistas o material de que necessitam para quetioná-la naquilo que ela julga ter de melhor: a capacidade gerencial.
A sete meses da eleição, os brasileiros ainda não deram ouvidos aos presidenciáveis do PSDB e do PSB. Mas já começam a olhar para Dilma de esguelha. A semana termina sob os efeitos de um tombo. De acordo com o Ibope, a taxa de aprovação do governo Dilma despencou sete pontos, estacionando em 36%. Trata-se de um percentual perigoso. Por duas razões.
Primeiro porque está na casa dos trinta, num patamar muito próximo do que tradicionalmente se atribui ao PT. Segundo porque nessa mesma época, no ano eleitoral de 2010, Lula carregava a candidatura de Dilma nos ombros vitaminado por um índice de aprovação de 75% no Ibope.
A Dilma da reeleição de 2014, conhecida por praticamente 100% do eleitorado, é vista como uma gestora mais dura de roer do que aquela técnica desconhecida que Lula escolheu para sucedê-lo. O padrinho ainda está do lado dela. Mas Dilma agora é a continuadora de si mesma, não do antecessor. E ela só tem levado à vitrine notícias ruins. Que seus contendores consideram ótimas.
O eleitor médio está pouco se lixando para o rebaixamento da nota do Brasil no boletim da Standard & Poor's. Mas os desacertos do governo já afetam o café com leite e o arroz com feijão. Sob Dilma, a inflação acumulada desde 2011 até o mês passado foi de 20,87%. Considerando-se apenas a inflação dos alimentos, o índice foi a 29,54%. É esse dado o que mais incomoda.
Ao sentir que cada vez sobra mais mês no fim do seu salário, os brasileiros remediados levam o pé atrás. Cutucados pelo Ibope, 71% dizem desaprovar a forma como o governo combate a inflação. Simultaneamente, o Banco Central informa que sua estimativa para a inflação do ano subiu de 5,6% para 6,1%. O que leva à perspectiva de novas altas na taxa de juros, contra a vontade de 73% dos pesquisados pelo Ibope.
Tudo isso num cenário em que Dilma envenena os balanços das empresas elétricas e da Petrobras aprisionando os preços de energia e combustíveis. Dilma conseguiu mergulhar o país num paradoxo: o governo estimula o patriciado a gastar luz elétrica à farta numa hora em que a falta de chuvas nos reservatórios bate recordes históricos.
Como se fosse pouco, Dilma obteve duas proezas políticas em escassos 15 dias. Numa, converteu o deputado Eduardo Cunha, líder do PMDB, em personagem nacional, digno de todas as iras presidenciais. Prometeu isolá-lo. E arrostou uma semana de isolamento na Câmara.
Noutro grande feito, Dilma fabricou uma CPI contra si mesma. Fez isso ao admitir em nota oficial que avalizara em 2006, com base num documento "técnica e juridicamente falho", a compra de uma refinaria micada. Valia US$ 42,5 milhões. E a Petrobras já enterrou no negócio US$ 1,2 bilhão. A plateia pergunta aos seus botões: o que foi feito da supergerente?
Por ora, Dilma ainda aparece em todas as pesquisas como favorita à reeleição. O diabo é que, numa fase em que os adversários se unem para desgastá-la, Dilma frita a si mesma no óleo que escapa da sua gestão. A sete meses da eleição, a frigideira não é o local mais adequado para a permanência de uma candidata.
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