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Josias de Souza

Amigo associa vaivém de Vargas a ‘depressão’

Josias de Souza

16/04/2014 04h04

Sérgio Amaral/UOLNuma intensa troca de telefonemas, parlamentares e dirigentes do PT esforçavam-se na noite passada para compreender o vaivém do deputado paranaense André Vargas. O anúncio de que Vargas renunciara à ideia de renunciar ao mandato dividiu a legenda. Uma parte ficou indignada. Outra, preocupada.

Ouvido pelo blog, um amigo de Vargas disse que ele exibe sinais de depressão. Tornou-se um personagem "ciclotímico". Em intervalos curtos, vai do choro à euforia. Ora queixa-se de solidão ora declara-se pronto para a luta. Um petista que falou com Vargas depreendeu que tudo pode acontecer nesta quarta-feira (16). Inclusive nada.

Intensificou-se a pressão para que Vargas renuncie ao mandato de deputado o quanto antes. O PT acena inclusive com a hipótese de arquivar o procedimento aberto contra ele na comissão de ética da legenda. Mas condiciona o gesto à renúncia. A prioridade da legenda é retirar Vargas do palco nacional, atenuando os prejuízos eleitorais que sua derrocada impõe à legenda e seus candidatos.

Há método na suposta depressão de Vargas. Até aqui, ele vem se rendendo à pressão do PT. Mas faz isso em conta-gotas. Instado a renunciar no alvorecer do escândalo, ofereceu um pedido de licença da Câmara. Comprometera-se com 90 dias. Na formalização do requerimento, anotou 60 dias.

Súbito, avisou ao partido que encurtaria a licença. Retornaria à Câmara no dia 21, depois de mastigar o chocolate da Páscoa. Informou que já havia inclusive providenciado um advogado para defendê-lo no Conselho de Ética da Câmara. Chama-se Michel Saliba, o mesmo que defendera o deputado preso Natan Donadon.

Alertado para o fato de que, no voto aberto, nem a bancada do PT se animaria a absolvê-lo em plenário, Vargas deu meia-volta em menos de 72 horas. Abriu a semana com o comunicado de que renunciaria na terça. Esqueceu-se de algo que o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), dissera sob refletores.

Na semana passada, antes de embarcar para uma viagem oficial à China, Henrique avisara que, uma vez aberto o processo por quebra de decoro no Conselho de Ética, a eventual renúncia não teria o condão de interromper o procedimento. É o que determina a Constituição, dissera o presidente da Câmara. Dito e feito.

O Conselho de Ética agora quer concluir a coreografia, levando Vargas até o cadafalso do plenário até o final de maio. Se confirmada, a renúncia do deputado deve ser enviada ao freezer. Seus efeitos permanecerão congelados até a conclusão do processo político. Daí a hesitação de Vargas.

Você logo ficará sabendo se a pressão do PT, agora mais forte do que antes, levará Vargas a renunciar à decisão de não renunciar.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.