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Josias de Souza

Eleitor sinaliza que chegou a hora da oposição

Josias de Souza

09/05/2014 08h09

 

Considerando-se a quantidade de brasileiros que informaram ao Datafolha que desejam mudar a forma como o país é governado, pode-se dizer que 74% dos portadores de títulos eleitorais passaram a enxergar Dilma Rousseff como "isso tudo que está aí".

Há um ano, a presidente não imaginava que poderia haver segundo turno em 2014. Muito menos que Aécio Neves e Eduardo Campos seriam alternativas a tudo que estaria ali. Por ora, nenhum governista admitiu em público. Mas, na intimidade dos gabinetes, não se fala noutra coisa: a hora da oposição pode ter chegado. Por duas razões:

1. Atolado numa conjuntura em que Guido Mantega derrete na Fazenda e Renan Calheiros vira heroi da resistência no Congresso, o condomínio oficial vive a psicose do que ainda pode acontecer.

2. Beneficiado por uma conjuntura em que suas candidaturas crescem sem levar à balança meio quilo de ideias, o bloco oposicionista sabe que a chegada ao Planalto dependerá da sua capacidade de agir organizadamente.

Dilma se esforça para demonstrar que pode ser menos Rousseff. De volta às redes sociais, abre o Alvorada para jornalistas, insinua que encarnará a mudança de si mesma. Convence cada vez menos.

Em fevereiro, 19% dos entrevistados do Datafolha disseram que Dilma era a pessoa mais preparada para fazer as mudanças necessárias. Há um mês, a taxa caiu para 16%. Agora, oscilou para 15%. Os rivais da presidente fazem o caminho inverso.

Em dois meses, subiu de 10% para 19% a taxa de eleitores que enxergam Aécio como o mais preparado para executar as mudanças. Nesse quesito, Campos saltou de 5% para 10%. Nenhum deles superou Lula, visto por 38% como o mais talhado para corrigir o que sua ex-supergerente fez de errado.

No cenário mais provável esboçado pelo Datafolha, Dilma teria hoje 37% das intenções de voto, contra 38% atribuídos aos seus antagonistas somados. Um quadro que sinaliza o segundo turno. Mesmo sem apresentar nada parecido com um programa, Aécio avançou quatro pontos, de 16% em abril para 20%. Campos oscilou um ponto para cima, cravando 11%.

Menos conhecidos do que Dilma, Aécio e Campos vivem o seu melhor momento porque a circunstância lhes oferece a chance de se mostrar qualificados para o exercício do poder numa hora em que a plateia vê desqualificação no poder em exercício. Podem aproveitar ou não a oportunidade. Para desperdiçá-la, basta que continuem atirando um no outro.

Editoria de Arte/Folha

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.