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Josias de Souza

Ação do PT contra Vargas no TSE é encenação

Josias de Souza

30/05/2014 04h02

A ação na qual o PT pede ao TSE que decrete a perda do mandato do deputado paranaense André Vargas por infidelidade partidária não é o que parece. Protocolada no início da semana, a petição faz supor que, após sufocar Vargas, obrigando-o a renunciar à vice-presidência da Câmara e a se desligar da legenda, o PT desejaria agora desligar o ex-filiado da tomada. É teatro.

A encenação foi montada para tentar atenuar o dano político que o relacionamento com o doleiro preso Alberto Youssef causou a Vargas. Às voltas com um processo por quebra de decoro parlamentar, o deputado corre o risco de ser cassado. O que o deixaria inelegível. Ainda que renunciasse, Vargas seria alcançado pela inelegibilidade prevista na Lei da Ficha Limpa.

Na Justiça Eleitoral, o prejuízo pode ser menor. Na hipótese de ser cassado pelo TSE por infidelidade partidária, Vargas perderia o mandato do mesmo jeito. Porém, manteria intactos os seus direitos políticos. Sem partido, não teria como voltar às urnas nas eleições deste ano. Mas estaria livre para pedir votos já na eleição municipal de 2016.

Chama-se Luciana Lóssio a ministra escalada para relatar a antiação do PT. No início da próxima semana, vence o prazo dado por ela para que Vargas apresente sua defesa. Há dois dias, na última volta do ponteiro do relógio, o deputado entregou a defesa requerida pelo Conselho de Ética da Câmara. Na peça, pede que sejam ouvidas oito testemunhas. Entre elas o doleiro Youssef. Joga para ganhar tempo, empurrando a encrenca para o segundo semestre. Se a cassação do TSE chegar antes, o processo que corre na Câmara vai ao arquivo por "perda de objeto".

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.