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Josias de Souza

Maluf tornou-se símbolo da reabsolvição eterna

Josias de Souza

30/05/2014 18h05

Alexandre Padilha apresenta-se ao eleitorado de São Paulo como novidade. É uma alternativa com boa cara para o eleitor que deseja a alternância no poder estadual. Uma opção petista à hegemonia tucana de duas décadas. Para colocar seu projeto em pé, Padilha foi atrás do Maluf, cortejou o Maluf, ofereceu vantagens ao Maluf, seduziu o Maluf. Nesta sexta-feira, em troca de 1min15s de propaganda no rádio e na tevê, Padilha entregou a viabilidade do novo à conveniência do Maluf.

A novidade fez de Maluf um personagem mais coerente. Em Brasília, ele apoia a petista Dilma. Na cidade de São Paulo, participa da gestão petista de Haddad. No Estado, ainda integrava o governo tucano de Alckmin. Aderindo a Padilha, Maluf já pode até exigir do petismo um selo de fidelidade. Tornou-se um político 100% PT, nos planos municipal, estadual e federal. A afinidade é tanta que o petismo já nem faz cara de nojo ao celebrar o apoio do Maluf em público.

Maluf fechou com Padilha 16 dias depois de o STF ter autorizado a Procuradoria da República a pleitear a repatriação de US$ 53 milhões desviados por ele. Segundo o Ministério Público Federal, a grana foi malufada na época em que o agora plurialiado do PT comandava a prefeitura de São Paulo. Encontra-se bloqueada em quatro praças: Suíça, Luxemburgo, França e Ilhas Jersey.

Ou seja: o velho doutor Paulo continua sendo o mesmo Maluf de sempre. O que faz da sua reincidência a maior evidência da imprudência que passou a guiar a política brasileira. Num país tão ilógico, onde o "novo" se exibe diante das câmeras ao lado do arcaico, onde nada tem história e ninguém tem biografia… num lugar assim, o Maluf deveria ganhar o título de aliado emérito, símbolo da reabsolvição eterna.

"Perto do Lula, eu sou um comunista", gosta de dizer Maluf. Noutros tempos, soava como piada. Hoje, parece uma hipótese perfeitamente razoável. Dono de uma licença sem prazo de validade para a regeneração, Maluf sempre será o que lhe parecer mais conveniente. No momento, para manter sua imagem de respeitabilidade, Maluf diversifica-se. Para os processos, dispõe dos seus advogados caros, que negam tudo. Para os dias de festa, Maluf tem o PT, seu velho sonho de fachada. O que mais o Maluf poderia querer?

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.