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Josias de Souza

Campos não empolgou Nordeste como desejava

Josias de Souza

04/07/2014 04h44

Um dos dados mais surpreendentes das últimas pesquisas é o desempenho pífio do nordestino Eduardo Campos na região Nordeste. Hoje, segundo o Datafolha, ele amealha nesse pedaço do mapa 11% das intenções de voto —um índice apenas dois pontos acima dos 9% que obtém em todo o país. Para quem governou Pernambuco por dois mandatos é pouco, admitem até os seus correligionários.

A inanição vira constrangimento quando se verifica que Campos está tecnicamente empatado no Nordeste com o mineiro Aécio Neves, a quem o Datafolha atribui 10%. O sonho de destronar Dilma Rousseff na região virou pesadelo. Cavalgando os programas sociais do governo, sobretudo o Bolsa Família, a candidata de Lula arrasta, hoje, 55% dos votos dos nordestinos.

Nas suas andanças pelos Estados do Nordeste, Campos gosta de recordar que Dilma deve sua eleição aos nordestinos, que lhe presentearam, em 2010, com uma dianteira de 10,7 milhões de votos em relação a José Serra, então candidato do PSDB. "Agora, ela quer levar nossos votos de novo", disse Campos em recente viagem à Bahia. "Não terá! Dessa vez os nordestinos já têm em quem votar."

Por enquanto, esse tipo de discurso não colou. Ao contrário. No Datafolha de junho, Dilma obtivera 48% no Nordeste. Na nova sondagem, ela avançou sete casas, estacionando nos 55%. Campos não é o único a lamentar. Aécio também esperava que o candidato do PSB marchasse sobre o eleitorado nordestino do PT, atenuando a vantagem que compensa a fragilidade de Dilma noutras regiões.

Há três meses, quando deixou o governo de Pernambuco, a primeira preocupação de Campos foi a de se instalar em São Paulo. Queria ver e, sobretudo, ser visto no maior colégio eleitoral do país. Dava-se de barato, então, que o Nordeste lhe cairia no colo por gravidade, mercê da grande aprovação que sua gestão tivera em Pernambuco.

No momento, um pedaço do PSB avalia que Campos terá de dispensar mais atenção ao Nordeste, abrigo de 27% do eleitorado do país. Sob pena de perder terreno não para Dilma, mas para o próprio Aécio. Que costurou alianças estratégicas em Estados como Bahia e Ceará.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.