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Josias de Souza

PT abre CPI do metrô e trama CPI do aeroporto

Josias de Souza

06/08/2014 04h31

Incomodado com o bumbo que o PSDB e DEM acionaram para amplificar a denúncia de farsa na CPI da Petrobras, o PT se entendeu com o Planalto e decidiu aderir à tática do barulho. O partido de Dilma Rousseff retomou a seguinte linha: quem com CPI fere, com CPI será ferido.

Em combinação com o presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), os operadores do PT marcaram para as 15h desta quarta-feira a instalação da CPI do Metrô de São Paulo. A sessão inaugural será presidida pelo membro mais idoso da comissão, que é o senador Eduardo Suplicy (PT-SP).

Se houver quórum, Suplicy coordenará a eleição de um presidente para a CPI. Em seguida, o eleito assume o comando e indica um relator para a comissão. Está entendido que o presidente deve ser do PMDB. E o relator do PT.

Chama-se Amaury Texeira (PT-BA) o deputado que deflagrou, com a anuência do alto comando do PT, a coleta de assinaturas para abrir uma CPI sobre o aeroporto de Cláudio. Ele ganhou a adesão instantânea da bancada de deputados federais do PT mineiro.

Na sessão vespertina desta terça, o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), escalou a tribuna para discursar sobre a acusação de que a CPI da Petrobras alivia o drama dos investigados enviando-lhes as perguntas com antecedência.

No dizer do líder do PT, a acusação de farsa não passa de "bobajada". Classificou de "legítima" a troca de informações entre investigados e investigadores. Evocando a CPI do Cachoeira, Humberto Costa disse que o PSDB também "blindou" o governador tucano de Goiás, Marconi Perilo, quando ele foi chamado a depor na CPI sobre suas relações com Carlinhos Cachoeira. "Além de reunir informações, vieram nos pedir civilidade", recordou.

A certa altura, o discurso de Humberto pousou na pista de Cláudio. Ele disse que não vai prejulgar Aécio. Mas acha que o presidenciável tucano deve explicações à sociedade por ter autorizado, como governador, o gasto de R$ 14 milhões na construção de um aeroporto em terra desapropriada de um parente.

Humberto foi aparteado pelos líderes do PSDB, Aloysio Nunes Ferreira (SP), e do DEM, José Agripino Maia (RN). Ambos reiteraram as críticas ao jogo de cartas marcadas da CPI da Petrobras. Abstiveram-se, porém, de defender Aécio no caso do aeroporto.

Ex-chefe da Casa Civil de Dilma, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) ecoou Humberto Costa ao classificar o barulho sobre a Petrobras de "cortina de fumaça" do tucanato para fugir da polêmica de Cláudio.

Como se sabe, as Comissões Parlamentares de Inquérito tornaram-se o caminho mais longo entre um escândalo e sua investigação. Ninguém ignora que as CPIs da Petrobras e a do metrô paulista darão em nada. A investigação do aeroporto talvez nem saia do papel. Mas quem olha para as relações intoxicadas de tucanos e petistas não acredita mais em paz no oriente médio.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.