Empresário doa a candidatos sem bulir no bolso
Saiu a primeira parcial das arcas eleitorais de 2014. No primeiro mês da campanha, o "caixa um" dos onze presidenciáveis somou R$ 31,2 milhões. O grosso, 91%, saiu da caixa registradora das empresas. Outra parte, 6%, veio do seu bolso, caro contribuinte —é dinheiro público, borrifado na eleição via Fundo Partidário. Apenas 3% foram providos por pessoas físicas.
Quer dizer: como ocorre em toda eleição brasileira, o baronato não mexe no próprio bolso. Prefere "doar" aos candidatos o dinheiro dos acionistas de suas empresas. Crítico desse fenômeno, o ministro Marco Aurélio Mello, do STF, que já presidiu o TSE um par de vezes, costuma dizer:
"Não temos altruísmo no Brasil. E o troco que é cobrado sai muito caro para a sociedade brasileira. Será que essas doações são feitas por uma ideologia, pela adesão a este ou aquele partido? A resposta é desenganadamente negativa."
Nesta primeira escrituração, divulgada no site do TSE, três logomarcas respondem por 65% das pseudo-doações: JBS, dona da marca de carnes Friboi; Ambev, companhia de bebidas; e a empreiteira OAS. Operam em ramos distintos. Mas têm em comum a proximidade com o Estado.
Sozinha, a JBS despejou na eleição presidencial, por ora, R$ 11 milhões —ou 35% do total da prestação de contas inaugural. Guiando-se pelo pragmatismo, a empresa igualou Dilma Rousseff a Aécio Neves, apostando R$ 5 milhões em cada. Para não correr riscos desnecessários, investiu R$ 1 milhão em Eduardo Campos, lanterninha do primeiro escalão.
Sob Lula, o dinheiro público do BNDES começou a ser empurrado para dentro do balanço do megadoador no ano de 2009. Deu-se em três lances. Num, o JBS-Friboi, maior produtor de carne bovina do planeta, recebeu aporte de R$ 3,2 bilhões. Noutro, o bancão oficial injetou R$ 2,5 bilhões no frigorífico Bertin, adquirido pelo Friboi.
Num terceiro movimento, a pretexto de cruzar as fronteiras do disputado mercado dos Estados Unidos, a casa de carnes emitiu R$ 3,4 bilhões em debêntures. E o BNDES adquiriu 99,9% do papelório.
A Ambev também diversificou seus investimentos eleitorais. No total, desembolsou R$ 6,7 milhões subtraídos dos acionistas. Distribuindo-os entre Dilma, Aécio e Campos. Ás voltas com gastos que superam a arrecadação, a pasta da Fazenda anunciou em maio um ajuste na tabela de tributação das bebidas, com impacto médio de 2,25% sobre os preços de cervejas, refrigerantes, isotônicos e refrescos. A mordida vigoraria a partir de 1º de junho. Foi adiada para setembro. E pode ser parcelada em três vezes.
A OAS, empreiteira das mais notórias, que extrai seus lucros principalmente de canteiros de obras públicas, dividiu seus mimos eleitorais de R$ 2,6 milhões entre Aécio e Campos. Para a "mãe do PAC", por enquanto, nada! Mas não faltarão oportunidades. Na sucessão de 2010, a primeira prestação de contas correspondeu a apenas 8% da totalização final das "doações", feitas depois da abertura das urnas.
Curiosamente, Aécio, ainda num distante segundo lugar nas pesquisas, lidera o ranking das "doações". Até aqui, o tucano beliscou R$ 11 milhões. A conta exclui R$ 4 milhões que o PSDB reteve em seu caixa central, mas pode transferir para o comitê do candidato. Dilma vem a seguir, com R$ 10,1 milhões. E Campos, abaixo dos 10% nas sondagens eleitorais, coletou notáveis R$ 8,2 milhões.
Dos três presidenciáveis mais bem-postos na disputa, Campos foi o que mais recebeu doações de pessoas físicas: R$ 690 mil. As contribuições mais generosas vieram de personagens vinculados à vice Marina Silva. Por exemplo: sócio da Natura e companheiro de chapa de Marina na eleição de 2010, Guilherme Leal pingou R$ 400 mil. Parceira de Marina na construção da Rede Sustentabilidade, Maria Alice Setúbal, do Itaú, compareceu com R$ 200 mil.
Como em toda campanha, os candidatos frequentam a cena prometendo realizar a reforma política. Aécio e Campos afirmam que cuidarão da matéria nos primeiros dias de seus eventuais governos. Um bom começo seria coibir as "doações" de empresas e estimular as contribuições de indivíduos. Pode não resolver 100% dos problemas. Mas talvez reduza aquilo que o ministro Marco Aurélio chama de "troco".
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