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Josias de Souza

Contadora de Youssef será convocada por CPI

Josias de Souza

11/08/2014 06h07

Relator da CPI, o petista Marco Maia deseja convocar a contadora do doleiro Youssef

As duas CPIs da Petrobras se reunirão na quarta-feira (13). A do Senado marcou uma sessão administrativa para as 10h15. A mista, com deputados e senadores, agendou para as 14h30 a inquirição de Nestor Cerveró, ex-diretor Internacional, autor do relatório que levou a estatal a aprovar a ruinosa aquisição da refirnaria de Pasadena, no Texas.

A pauta da CPI exclusiva do Senado prevê apenas a votação de requisições de documentos a órgãos como o Tribunal de Contas da União e a Controladoria-Geral da União. A comissão mista, além da ouvir Cerveró, analisará os pedidos de convocação de uma personagem nova. Chama-se Meire Bomfim Poza. Vem a ser a contadora do doleiro Alberto Youssef, preso na Operação Lava Jato.

Meire decidiu abrir as arcas de Youssef, revelando os negócios do doleiro com empresas privadas, com o ex-diretor preso da Petrobras Paulo Roberto Costa e com prefeituras. De resto, deu detalhes de repasses feitos por seu patrão a parlamentares. Após firmar um acordo de delação premiada, a contadora quebrou o silêncio em depoimentos à Procuradoria e em entrevista ao repórter Robson Benin.

PPS e DEM informaram que protocolarão nesta segunda-feira requerimentos de convocação de Meire Poza. Até o deputado governista Marco Maia (PT-ES), relator da CPI mista, declarou que considera essencial o depoimento da contadora. Chamou-a de "peça-chave" do esquema de lavagem de dinheiro comandado por Youssef. Com isso, a inquirição da contadora ganhou ares de fato consumado. Falta definir a data.

Por enquanto, são cinco os congressistas que, segundo a contadora, receberam dinheiro sujo de Youssef, ora em moeda sonante ora em depósitos bancários: os deputados André Vargas (ex-PT-PR), Luiz Argôlo (SDD-BA), Mário Negromonte (PP-BA) e Cândido Vaccarezza (PT-SP), além do senador Fernando Collor de Mello (PTB-AL). Todos negam a acusação.

Das empresas que estariam metidas no esquema de Youssef, a contadora mencionou três: as construtoras OAS, Camargo Corrêa e Mendes Júnior. Ela citou também uma corretora que pertenceria ao doleiro, a DGF Investimentos. Sobre a Camargo Corrêa, Meire Poza disse que integrava "um esquema exclusivo de comissões de negócios acertados dentro da Petrobras com o Paulo Roberto Costa", o ex-diretor da estatal preso no Paraná.

A contadora revelou, de resto, que Youssef ofereceu propinas a prefeitos do PT que aceitassem investir num fundo criado por ele. Coisa de 10% sobre o valor das transações. "A comissão era levada em malas de dinheiro no avião dele", declarou Meire Poza.

A arguição de Nestor Cerveró, nesta quarta, deve ser atribulada. Ele é um dos beneficiários da farsa que resultou na entrega antecipada das perguntas que lhe foram dirigidas em sessão ocorrida na outra CPI, a do Senado. A Petrobras alegou ter recolhido as questões de um plano de trabalho da CPI, divulgado no site do Senado. Uma versão que não resiste à análise do conteúdo de vídeo gravado clandestinamente numa reunião no escritório da estatal, em Brasília.

Em nota, a Petrobras informou que adestrou seus diretores e ex-diretores para depor na CPI. Submeteu-os a um procedimento chamado de "media training". Algo que, no caso de Cerveró, é mais do que esquisito. Acusado por Dilma Rousseff de produzir um parecer "técnica e juridicamente falho" sobre Pasadena, o ex-diretor da área internacional foi brindado com o treinamento depois de ter sido demitido da Petrobras.

A farsa dos "gabaritos" e a delação da contadora deram sobrevida a uma investigação parlamentar totalmente desacreditada. Mas nem as almas mais ingênuas acreditam que as CPIs produzirão algo além de teatro. Resultados efetivos só devem emergir dos inquéritos da PF, feitos sob supervisão da Procuradoria e acompanhados pelo juiz federal Sérgio Moro, do Paraná.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.