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Josias de Souza

Programa de Dilma terá homenagem a Campos

Josias de Souza

14/08/2014 17h18

O brasileiro nasce e cresce sob a pele de homem. Mas fenece como santo. A morte é de uma eficácia promocional inaudita. Ela lava biografias e estreita inimizades. Ao abandonar o governo para se lançar na briga sucessória, Eduardo Campos tornara-se alvo de ironias e críticas dos ex-aliados petistas. A qualificação mais branda que lhe dirigiam era a de "traidor".

Súbito, o PT decidiu reabilitar Campos. O ex-desafeto será homenageado, veja você, na propaganda eleitoral de Dilma Rousseff, cuja reeleição o candidato morto tentava evitar. O formato da homenagem ainda não foi definido. Cogita-se acomodá-la nos lábios de Lula.

O ex-presidente já manifestou seu apreço por Campos numa nota divulgada nas pegadas da tragédia. Mas o texto não tem a mesma serventia eleitoral de uma menção feita na propaganda televisiva de Dilma. Uma alma maldosa poderia supor que o comitê reeleitoral da presidente explora a infelicidade alheia. Bobagem. No Brasil, o morto com defeitos é mesmo uma utopia.

– Ilustração via Miran.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.