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Josias de Souza

Freire: Serra pode participar de governo Marina

Josias de Souza

03/09/2014 18h40

O deputado federal Roberto Freire (SP), presidente nacional do PPS, disse não ter "nenhuma dúvida" de que o tucano José Serra, seu amigo, pode integrar um eventual governo presidido por Marina Silva. Candidato a senador pelo PSDB de São Paulo, Serra "coloca o interesse público acima das questões partidárias", disse Freire.

O deputado concedeu uma entrevista ao blog no início da tarde desta quarta-feira. Declarou-se convencido de que, eleita, Marina contará com o auxílio também de Fernando Henrique Cardoso, presidente de honra do PSDB, outra "figura da política brasileira que tem o interesse público acima de outras questiúnculas."

FHC "será o homem do diálogo", vaticinou o morubixaba do PPS. "É sempre bom a gente lembrar que Fernando Henrique Cardoso estava junto com Marina quando ela se elegeu pela primeira vez senadora. Ele apoiava Marina lá no Acre. É um dado importante." Segundo Freire, FHC e Marina mantêm uma relação de respeito mútuo.

Velho conhecedor do tucanato, corrente política com a qual o seu PPS se coligou em várias eleições, Freire prevê que, se virar presidente, Marina não contará apenas com o apoio isolado de caciques do PSDB. O próprio partido tenderia a cultivar um relacionamento institucional com o novo governo.

"Conheço as lideranças do PSDB e sei do seu espírito público. São membros de um partido que tem a ideia de cooperar com o país. Não são intolerantes, não são daqueles que vão para a oposição contra tudo e contra todos", declarou Freire. Ele recordou dois momentos da história em que o alegado "espírito público" dos tucanos se manifestou.

Num, o PSDB demonstrou boa vontade para aprovar reformas estruturais que Lula pretendia enviar ao Congresso no início de sua gestão, em 2003. O "espírito de cooperação" do tucanato só não se materializou porque Lula desistiu de propor as tais reformas. Antes disso, recordou Freire, o PSDB cogitou socorrer Fernando Collor antes da abertura do processo de impeachment. "Ainda bem que entenderam que não era para fazer."

Freire acredita que até mesmo o governador tucano de São Paulo, Geraldo Alckmin, terá um papel de relevo na consolidação do apoio político a Marina Silva caso a candidatura do PSB prospere. "Se houver segundo turno presidencial, Alckmin, evidentemente, votará na candidatura da oposição. Se for Marina, votará em Marina."

Candidato à reeleição, Alckmin carrega em sua coligação o PPS de Freire e o PSB, que hospeda Marina em seus quadros e indicou para vice de Alckmin o deputado Márcio França. Marina se opôs à aliança. Mas Freire acredita que a posição dela evoluirá num provável segundo turno.

"Alckmin é um homem sério", disse Freire. "Marina não pode dizer que não o recebe. Pode até não ter preferência, como não teve, em apoiá-lo. Mas admitiu que a sua coligação apoiasse, não apenas quando Eduardo Campos era vivo, mas agora, através do vice-presidente Beto Albuquerque, que representa o apoio da coligação a Geraldo Alckmin. Não tenho dúvida de que vai ser importante esse diálogo."

Freire irritou-se com a propaganda eleitoral de Dilma Rousseff, que tenta instilar no eleitorado o medo de que uma vitória de Marina Silva empurre o país para desastres à Jânio Quadros e Fernando Collor. O deputado classificou a estratégia como "terrorismo político". O mesmo que foi usado no passado contra Lula.

A diferença, segundo Freire, é que Lula foi vítima de manifestações individuais, como as do ex-presidente da Fiesp Mario Amato e da atriz Regina Duarte. O emprego da mesma tática contra Marina seria mais grave, na opinião do deputado, porque é avalizada por Lula, Dilma e o PT.

Para Freire, a tática do terror político é coisa "de quem não tem respeito pela democracia", que pressupõe alternância no poder. O deputado respondeu, de resto, a uma observação feita pelo governador do Ceará, Cid Gomes (PROS). Comparou-o a Carlos Lacerda.

"Tem até um governador que é aliado da presidente Dilma, que disse que Marina não termina o seu mandato se for eleita. Isso só me lembra Carlos Lacerda, que disse que Juscelino, se ganhasse a eleição, não tomava posse. Se tomasse posse, não terminava o governo."

Realçando que falava em tese, já que "a eleição ainda não acabou", Freire reconheceu que um governo chefiado por Marina seria minoritário no Congresso. Acha, porém, que isso não a impediria de governar. Avalia que o próprio cenário eleitoral cuidará de aproximar as forças de oposição. As alianças de segundo turno anteciparão o que sucederá no governo.

Na opinião de Freire, a relação do Executivo com o Legislativo não precisa ser baseada na promiscuidade. "Você pode ter uma base de sustentação que não seja permanente, mas que possa se formar a partir de um núcleo em torno de programas."

Afora o PSDB, Freire prevê que "setores do PMDB" também apoiariam um eventual governo Marina. "Alguns diretórios estaduais da legenda já apoiavam Eduardo Campos e, depois da morte dele, transferiram o apoio para Marina." Entre eles o do Rio Grande do Sul, o do Mato Grosso do Sul e de Pernambuco.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.