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Josias de Souza

Eduardo Cunha move-se para presidir a Câmara

Josias de Souza

15/09/2014 05h23

Enquanto as manchetes se ocupam de diversionismos como as caneladas de Dilma Rousseff e os muxoxos de Marina Silva, fatos de real relevância são confinados em notas de rodapé. Como, por exemplo, a antecipação do principal lance da legislatura a ser inaugurada em fevereiro de 2015. Está-se falando da movimentação do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) para tornar-se presidente da Câmara.

Dilma desenvolveu uma ojeriza a Eduardo Cunha. Se ele não fosse o líder da bancada do PMDB, não lhe daria nem 'bom dia'. No manual de Marina, pregoeira da 'nova política', o deputado consta do capítulo das coisas muito antigas. Sob sua hipotética presidência, Marina detestaria vê-lo na terceira poltrona da linha sucessória.

Ou seja: se Eduardo Cunha conseguir colocar seu plano em pé, a próxima presidente da República, Dilma ou Marina, terá no comando da Câmara a personificação de um litígio. A despeito disso, ambas parecem acreditar que é cedo para tratar do problema. Beleza. Mas, em política, quem acredita piamente não pode piar depois.

"O PMDB é o partido moderador do império", diz o deputado cearense Danilo Forte, vice-líder de Eduardo Cunha. "É o PMDB que dá o norte da governabilidade. Seja quem for o presidente da República, o jogo do Parlamento passará por nós. E nesse momento quem tem mais condições de tocar a Câmara é o Eduardo Cunha. Esse é o pensamento da maioria da nossa bancada, se não for da unanimidade."

Trafegando na contramão, o deputado Miro Texeira (Pros-RJ), amigo e apoiador de Marina Silva, tenta seduzir um grupo de colegas para o que chama de 'corrente de pensamento' em favor da restauração do papel constitucional da Câmara. Aos que já compraram sua tese, Miro sugere correr o país a partir de 6 de outubro para desfazer o prato feito do PMDB.

Não é contra o Eduardo Cunha, é a favor da Câmara, costuma dizer Miro Teixeria, em privado. Seus colegas afirmam que ele também acalenta o desejo de presidir a Casa. Procurado, Miro disse: "Até o dia 5 de outubro tenho que tentar me reeleger. Essa é a minha prioridade."

Miro não negou que articula um movimento para tentar renovar práticas e métodos. Mas declarou que esse tipo de iniciativa costuma morrer no nascedouro se a discussão começa pelos nomes e não pelos objetivos.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.