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Josias de Souza

Petrobras: delação faz Dilma exagerar no teatro

Josias de Souza

22/09/2014 05h16

Sob a alegação de que precisa de "informações oficiais" para tomar providências, Dilma Rousseff exige receber uma cópia dos depoimentos do delator Paulo Roberto Costa. Requereu os papeis à Polícia Federal. Nada feito. Reiterou o pedido ao procurador-geral da República Rodrigo Janot. Nem pensar. Anunciou que baterá à porta do gabinete do ministro Teori Zavascki, que cuida do caso no STF. Qualquer resposta diferente de um categórico indeferimento será absurda.

Como presidente da República, Dilma é parte do problema, não da solução. Como candidata à reeleição, ela é devedora de explicações, não credora de informações. Pode começar explicando à plateia por que fala em adotar agora, sob pressão, providências que não adotou antes por opção.

Ninguém imagina Dilma e Lula com os pés em cima da mesa —ela com uma taça de champanhe, ele com um charuto entre os dedos— combinando os termos da transição: "Na Petrobras, não mexa no Paulinho e nos outros diretores sem combinar com a turma do Congresso. Você sabe: a governabilidade tem seu preço." Do mesmo modo, é difícil imaginar que a Petrobras tenha sido entregue a saqueadores sem o conhecimento de Dilma.

Embora não seja a gerentona que Lula inventara em 2010, Dilma mantém a bolsa limpa, até prova em contrário. Mas o fato é que, por seu estilo e seu discurso, não pode alegar desconhecimento e transferir responsabilidades. Ex-presidente do Conselho de Administração da Petrobras, sempre jactou-se das maravilhas do setor petrolífero. Se a estatal virou essa bomba que ameaça explodir no seu colo, Dilma só pode culpar o antecessor e a si mesma. Ou a quem colocou ou permitiu que ficasse no comando.

Abalroada pelo escândalo em plena campanha eleitoral, Dilma decidiu seguir duas linhas de defesa: a linha "não sabia" e a linha "me dêem as provas que eu passo a vassoura." Às vezes exagera no teatro. Como na entrevista em que ela se irritou ao ser indagada, na semana passada, sobre a propina de R$ 1,5 milhão que Paulo Roberto Costa teria mordido na compra da refinaria de Pasadena.

"…Sou a favor de investigar, nada de colocar para debaixo do tapete", disse Dilma. "Acho que o maior mal atual é a impunidade. Investiga-se, descobre-se o malfeito e não condena, cria a sensação de que não teve pena nenhuma. Sabe por que protege com a impunidade? Porque você não prende, não pune e só tem um jeito: tem que punir. Por isso é que se diz: tolerância zero." Conversa mole.

Se Dilma fechasse as usinas de escândalos, haveria menos matéria-prima para investigações. Desde que a cúpula do PT foi enviada para a Papuda, a impunidade deixou de ser o maior mal. Ficou demonstrado que já é possível julgar, condenar e prender. O que atrapalha é a inclusão dos presidiários no rol dos herois do PT. E a ilimitada tolerância com o apadrinhamento de bandidos para postos de comando.

Entre os beneficiários do petrolão, Paulo Roberto Costa teria mencionado o ministro Edison Lobão. Dilma alega que não pode afastar o afilhado de José Sarney sem que lhe sejam providas as "informações oficiais". A questão é outra: por que nomeou um neófito? Com uma biografia tão precária no comando da pasta de Minas e Energia e a Petrobras de ponta-cabeça, uma coisa é certa: o pedido de Dilma para ter acesso ao teor da delação, por teatral, não merece ser levado a sério.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.