Dilma levou a candidatura para passear na ONU
Dilma Rousseff levou a República para passear em Nova York e sua candidatura presidencial foi junto. Ela fez pose de presidente na tribuna da Assembléia Geral da ONU. Esqueceu que, por trás da pose, é preciso que exista uma noção qualquer de Estado. Dilma pôs a sua melhor roupa, o seu melhor sapato e as suas melhores virtudes para fornecer matéria-prima ao marqueteiro João Santana. Sobre política interna, soou questionável. Sobre política externa, lamentável.
Se fosse regido pelo discurso marqueteiro pronunciado nas Nações Unidas, o Brasil seria um país extraordinário. Teria obras públicas em profusão, tocadas em ritmo febril. "Retomamos o investimento em infraestrutura numa forte parceria com o setor privado." Jamais sobraria mês no fim do salário dos brasileiros. "A taxa de inflação anual tem se situado nos limites da banda de variação mínima e máxima fixada pelo sistema de metas."
O fechamento das contas públicas não exigiria a retirada de cartolas de dentro de coelhos. "Não descuramos da solidez fiscal e da estabilidade monetária." As fornalhas da economia nacional operariam em sua plenitude. "Protegemos o Brasil frente à volatilidade externa. Soubemos dar respostas à grande crise econômica mundial, deflagrada em 2008."
Os patrícios coabitariam um Éden igualitário. "Se em 2002, mais da metade dos brasileiros era pobre ou muito pobre, hoje 3 em cada 4 brasileiros integram a classe média e os extratos superiores." O paraíso seria ético. "Outro valor fundamental é o respeito à coisa pública e o combate sem tréguas à corrupção."
Quem ouviu Dilma recitando o discurso redentor que João Santana aproveitará no horário eleitoral teve a impressão de que o Brasil realmente mudou muito nos últimos 12 anos. Talvez tenha ido para a Dinamarca. Ao embarcar para Nova York, Dilma não tirou os pés apenas do solo brasileiro. Ela privou seus sapatos de um contato com a realidade. Ao tratar de política externa, a oradora estava na estratosfera.
Num dia em que até a Síria, o Irã e a Rússia emitiram sinais de apoio às bombas que os EUA despejam sobre as cabeças dos terroristas do Estado Islâmico, Dilma condenou o "uso da força". Pregou o diálogo. Não citou os colecionadores de escalpos. Mas terminou equiparando-os a um Estado nacional. Fez isso ao enumerar as encrencas que reclamam negociação: Palestina, Síria, Iraque e Ucrânia, por exemplo. Foi ecoada apenas pela companheira Cristina Kirchner ecoou Dilma na ONU. Uma evidência de que precisa aterrissar urgentemente.
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