13º para o Bolsa Família foi gol contra de Marina
Premida pelo Datafolha que acomodara Aécio Neves nos seus calcanhares, Marina Silva foi ao debate da TV Globo, na noite de quinta-feira (2), intimada pelas circunstâncias a fazer gols. Terminou marcando apenas um. Curiosamente, contra. Ao prometer instituir um 13º salário para a clientela do Bolsa Família, Marina exagerou no truque. Foi como se tirasse uma cartola de dentro do coelho.
Depois de atravessar a campanha jactando-se de ser a única contendora a exibir um programa, a substituta de Eduardo Campos recorreu ao improviso. Em condições normais, a ideia soaria apenas absurda. Exposta contra um pano de fundo adverso, ecoou como burrice. Passou uma sensação de desespero própria de candidatos que, não podendo elevar sua estatura eleitoral, rebaixam o teto.
Em entrevista concedida nas pegadas do debate, já na madrugada de sexta-feira (3), a 48 horas da eleição, Marina tentou explicar-se: "A proposta já vinha em estudo desde que Eduardo era vivo. E ele ia apresentar esta proposta no Jornal Nacional, em sua última entrevista. Mas preferiu que fizéssemos todos os cálculos antes. Fizemos. E é perfeitamente possível."
Dando-se crédito à versão de Marina, o que era ruim fica um pouco pior. Ficou entendido que a coisa foi estudada. Todo mundo está sujeito ao equívoco. Mas escolher o erro cuidadosamente, submeter o erro a um grupo de trabalho, planejar o erro em seus mínimos detalhes, calcular o erro… tudo isso exige uma doce e inabalável vocação para o erro.
Não foi um pecado original. Na sucessão de 2010, atacado pela própria Marina por não fazer uma "autocrítica" pelos supostos reparos do tucanato à política social vigente, o então presidenciável José Serra saiu-se pela primeira vez com a proposta de enfeitar o Bolsa Família com um 13º salário. Não se sabe, por ora, se a candidatura presidencial de Marina terá o mesmo destino da de Serra. Mas o tucano, se quiser, já pode acusar a ex-adversária de plágio.
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