Coreografia demorada esvaziou papel de Marina
No mundo dos negócios, tempo é dinheiro. Na política, tempo é poder. Há uma semana, derrotada na sua pretensão de passar ao segundo turno da disputa presidencial, Marina Silva tornara-se uma poderosa terceira colocada. Seu apoio era cobiçado por todos. Que fez Marina? Matou o tempo, em vez de vivê-lo.
Antes mesmo da abertura das urnas, Marina comentara, em privado, que jamais cogitaria apoiar Dilma. A campanha de desqualificação lhe deixara marcas na alma. Restavam Aécio ou o voto nulo. Qualquer que fosse a decisão, haveria uma justificativa plausível.
Com Aécio, Marina poderia sustentar que a política baseada apenas nos bons sentimentos, por estéril, não muda as coisas. Optando pelo voto nulo, diria que não se pode enxergar apenas os objetivos-fim, sem considerar os objetivos-meio. Ou, por outra: política sem sonho não vale a pena.
Aprisionada em algum lugar entre o ideal e a prática, Marina girou por uma semana como um parafuso espanado. Reuniu-se com correligionários. Deitou sobre o papel um lote de compromissos que queria impor a Aécio. Divulgou nota para desmentir que houvesse decidido. Prometeu dizer algo na quinta-feira. Cancelou. Visitou FHC. Conversou com fulano. Recebeu beltrano. Ouviu sicrano. E nada.
Súbito, Beto Albuquerque, o número 2 da chapa de Marina, fez uma declaração pró-Aécio. Os partidos que integravam a coligação derrotada formalizaram apoio ao tucano —primeiro o PPS; depois o PSB. Até a família de Eduardo Campos —a viúva Renata e os filhos— aderiram ao rival de Dilma.
Em Pernambuco, Aécio absorveu parcialmente neste sábado as teses de Marina. Divulgou uma carta. Em São Paulo, a esfinge mandou dizer, por meio do porta-voz Walter Feldman: "Em relação ao conteúdo do debate programático do primeiro turno, avança de maneira consistente. Mas não há que se imaginar que seja o programa da Rede." Nem poderia. O eleitor não quis.
Marina anunciará sua decisão neste domingo. Dará entrevista às 10h30. A importância da decisão, seja qual for, será inversamente proporcional ao espaço que ocupará nas manchetes. O Datafolha informou há dois dias: 66% dos eleitores que declaram ter votado em Marina no primeiro turno já migraram para Aécio. Apenas 18% dizem preferir Dilma no segundo round.
Marina ainda não se deu conta. Mas o tempo, por vingativo, não perdoa quem tenta matá-lo. A posição da candidata que diz representar a "nova política" tornou-se politicamente irrelevante.
– Atualização feira às 13h12 deste domingo (12): como previsto, Marina Silva anunciou, finalmente, a posição que adotará no segundo turno. Declarou apoio à candidatura de Aécio Neves.
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