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Josias de Souza

Na página da Câmara, André Vargas ainda é PT

Josias de Souza

14/10/2014 18h32

Reprodução/Site da CâmaraSeis meses após protagonizar uma desfiliação cenográfica dos quadros do PT, o deputado paranaense André Vargas ainda é identificado no portal da Câmara como um parlamentar petista. Até a estrela vermelha, banida da propaganda de vários candidatos da legenda, continua gravada na página que traz as informações sobre Vargas no site da Câmara.

André Vargas tornou-se um companheiro tóxico depois que foi pilhado num relacionamento monetário com o doleiro Alberto Youssef, estrela da Operação Lava Jato. No papel, o deputado virou um ex-petista em 25 de abril, dia em que entregou sua carta de desfiliação. "Sem partido, irei dedicar-me agora à minha defesa no Conselho de Ética…", anotou.

O Partido dos Trabalhadores se absteve, porém, de requerer à Câmara a retirada de sua sigla e de sua logomarca da página do parlamentar. Mais: nos subterrâneos, o PT oferece proteção a Vargas na Câmara, manobrando para adiar a apreciação do pedido de cassação do parlamentar.

Já aprovado no Conselho de Ética, o processo deveria ter sido enviado ao plenário. Mas Vargas recorreu à Comissão de Constituição e Justiça. Que não consegue reunir o quórum mínimo para a apreciação do recurso.

Em maio, o PT protocolou no TSE uma ação de perda do mandato de André Vargas por infidelidade partidária. A petição era parte da encenação. Fazia supor que, após sufocar Vargas, obrigando-o a renunciar à vice-presidência da Câmara e a se desligar da legenda, o PT desejaria retomar-lhe o mandato. Era Teatro.

Em verdade, desejava-se atenuar o dano político que o relacionamento com Youssef causou a Vargas. Se fosse cassado na Câmara, o deputado ficaria inelegível. Perdendo o mandato na Justiça Eleitoral, o dano seria menor. Vargas manteria intactos os seus direitos políticos. Estaria livre para pedir votos já na eleição municipal de 2016. O caso encontra-se pendente de julgamento.

A encenação montada pelo PT não surtiu os efeitos desejados. Temia-se que a má reputação do deputado prejudicasse as campanhas de Dilma Rousseff ao Planalto, de Alexandre Padilha ao governo de São Paulo e de Gleisi Hoffmann ao governo do Paraná. Derrotados no promeiro turno, Padilha e Gleisi amargaram votações vexatórias. E Dilma se esforça para tourear os efeitos das revelações de um delator, Paulo Roberto Costa, que converte André Vargas em figurante do escândalo.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.