Nem Dilma nem Aécio, vote em Anderson Silva
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Pelo segundo debate consecutivo, Dilma Rousseff e Aécio Neves emboscaram a audiência. Quem se pendurou na tevê, na web e no rádio à procura de ideias desperdiçou tempo. No confronto eleitoral mais desqualificado desde a sucessão de 1989, os presidenciáveis exibiram apenas os punhos. Ninguém esperava por uma troca de perguntas florais. Mas se porrada resolvesse os problemas da nação, Anderson Silva seria um candidato bem mais competitivo.
O desempenho da economia é medíocre, a inflação é alta, os juros são elevados, o déficit externo bate recorde, a deterioração fiscal é alarmante, a dívida pública cresce e os investimentos definham. Sobre isso não se falou com a profundidade desejável. Mas ficou-se sabendo que Dilma, embriagada pelo marketing, acha que Aécio fugiu do bafômetro em 2011 porque estava bêbado. E Aécio revelou à nação que Dilma terceirizou o nepotismo, empregando o irmão na prefeitura companheira de Fernando Pimentel, em Belo Horizonte.
O presidencialismo de cooptação produziu na Petrobras uma roubalheira sem precedentes. Quando os depoimentos prestados em regime de delação puderem soar em público, o mensalão parecerá um desses casos que transitam pelos juizados de pequenas causas. Cutucada por Aécio, Dilma respondeu que sabe o que o PSDB fez no verão passado. E o tucano: por que, em 12 anos, não mandaram investigar?
Nesse lero-lero, nenhum dos dois abordou o essencial: o modelo político adotado por PT e PSDB faliu. O fisiologismo deixou de ser parte do sistema. Passou a ser o próprio sistema. Está tão integrado ao cenário brasiliense quanto as curvas da arquitetura de Niemeyer. O empate nas pesquisas e o nanismo dos debates impedem a antecipação do nome do próximo inquilino do Planalto. Mas já se pode assegurar, sem margem de erro: o PMDB e seus vícios serão os esteios da governabilidade.
As duas grandes encrencas nacionais —os desajustes econômicos e a hecatombe da delação— já fizeram de 2015 um ano miserável. Em relação à economia, Aécio faz o diagnóstico sem esmiuçar a terapia. E Dilma finge não enxergar nem a doença. Quanto à breca do sistema político, não se ouviu uma mísera palavra nos dois debates já realizados no segundo turno.
Já está claro que o atual modelo de debates precisa ser reformulado. O caso é de menos marketing e mais sobriedade. Se havia alguma dúvida sobre a decadência da fórmula, foi eliminada na noite desta quinta-feira, nos estúdios do SBT. Mas não há o que fazer nos dez dias que faltam para a eleição. Estão programados mais dois debates. De duas, uma: ou Dilma e Aécio levam meio quilo de ideias à bancada ou os telespectadores mais antigos terão saudades das baixarias encenadas por Fernando Collor em 1989.
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