Depois de 'matar pai e mãe', comitês de campanha pedem compaixão para órfão
Depois de transformar a sucessão de 2014 numa espécie de luta de boxe travada na lama, os comitês de Dilma Rousseff e Aécio Neves firmaram no TSE algo muito parecido com um armistício.
As campanhas abdicaram das representações que tinham protocolado uma contra a outra —cerca de 30, só na noite desta quarta-feira seriam julgadas 16 ações. E comprometeram-se a levar ao ar no rádio e na tevê programas de governo, não ataques.
Considerandos-se que a propaganda eleitoral acaba nesta sexta-feira (24), as duas campanhas abriram mão de 48 horas de apertões no nariz, puxões na orelha e chutes no traseiro.
Presidente do TSE, o ministro Dias Toffoli tentou revestir o acordo com um verniz histórico: "Queria, em nome do Tribunal Superior Eleitoral, dizer do imenso gesto para a democracia brasileira que as duas campanhas demonstram neste momento, se comprometendo a fazer campanhas propositivas e programáticas e desistindo de todas as representações. É um momento histórico para esta Corte."
Deve-se o acordo, em verdade, ao pragmatismo jurídico, não ao apreço pela democracia brasileira. Mantendo as representações, as campanhas de Dilma e Aécio corriam o risco de ter os derradeiros comerciais da campanha retalhados por decisões do TSE. No limite, os últimos programas seriam quase que integralmente censurados. Daí a desistência das ações.
Mal comparando, os comitês dos presidenciáveis comportaram-se na reta final mais ou menos como o criminoso da anedota, que matou pai e mãe e, no dia do julgamento, pediu misericórdia para um pobre órfão.
– Ilustração via Miran.
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