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Josias de Souza

Clone de Dilma pode ter voado à cúpula do G20

Josias de Souza

12/11/2014 15h20

Uma Dilma Rousseff irreconhecível encontra xeica Moza bint Nasser, em Doha, no Qatar

Ninguém entendeu direito. Ao testemunhar Dilma Rousseff respondendo às críticas de Marta Suplicy com calma, compreensão e comedimento, uma mosca brasiliense, que voara junto com a comitiva no avião presidencial, exclamou: A presidenta está completamente fora de si!

Marta deixou a pasta da Cultura antes da hora, conspurcando o script oficial. "Não estabeleci prazo para ninguém sair", desdenhou Dilma, de passagem por Doha, no Qatar.

Na véspera, assessores do Planalto haviam informado que a pressa da ministra da Cultura surpreendera a chefa. "O Palácio não fala, é integrado por paredes mudas", desautorizou Dilma. "Só quem fala sobre reforma é essa pessoa modesta que vos fala aqui."

Repórteres e membros da comitiva presidencial chegaram a suspeitar que ela estivesse enfiando mensagens pelo vão das entrelinhas. Que diabos, a demissionária mandara entregar a carta de demissão no protocolo do Planalto.

"A ministra Marta não fez nada de diferente, de errado, não teve atitude incorreta, seria uma injustiça [criticá-la]", Dilma contemporizou. "Logo depois da minha eleição, disse que sairia e eu aceitei. Ela me disse que enviaria uma carta."

E quanto aos ataques de Marta à política econômica do governo? "Não fez nada de diferente de outros ministros", deu de ombros Dilma. "As pessoas têm direito de dar opinião".

Uma onda de suspeitas varre Brasília. Dirigentes do PT suspeitam que a Dilma que passou pelo Qatar, rumo à cúpula do G20, na Austrália, não é autêntica. Sim, exato. O Brasil estaria sendo representado no estrangeiro por uma clone daquela famosa presidenta durona. Uma clone saída das provetas do PMDB de Eduardo Cunha.

A Dilma legítima teria sido trancafiada numa masmorra, em algum lugar dos 7.300 m² do Palácio da Alvorada. Voluntários peemedebistas montariam guarda. Suspeita-se que o vice Michel Temer seja cúmplice do sequestro.

Três vezes por dia, Temer atravessaria um túnel que liga os porões do Jaburu, sua residência oficial, aos subterrâneos do vizinho Alvorada. Levaria água e comida para a prisioneira. 
Isso explica a conversão de Temer em principal negociador político do governo nas últimas 48 horas.

Só uma clone da Dilma aceitaria que Temer liderasse a articulação para aprovar o projeto que autoriza o governo a descumprir sua meta fiscal de 2014. Só há duas formas de desmascarar a clone. Uma delas é o teste de DNA. A outra é perguntar à impostora o que acha do deputado Eduardo Cunha. Se elogiar, não restará mais dúvidas. Se defender a eleição dele para a presidência da Câmara, pode chamar a Interpol.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.