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Josias de Souza

Em nota, PMDB tenta se distanciar da Lava Jato

Josias de Souza

19/11/2014 15h46

Presidida por Michel Temer, vice-presidente da República, a Executiva Nacional do PMDB divulgou nota nesta quarta-feira (19). No texto, a legenda tenta tomar distância do escândalo de corrupção na Petrobras. Em linguagem opaca, a mensagem utiliza todos os estratagemas, para atingir seus subterfúgios sem usar palavras incômodas e sem dar pseudônimo aos bois.

A nota do PMDB exige tradução. Tem três parágrafos. Num, manifesta "seu veemente repúdio a toda e qualquer acusação que esteja sendo feita ao partido, como beneficiário do que está sendo objeto da Operação Lava Jato." Nesse trecho, o partido de Temer quis dizer que jura não ter recebido propinas de empreiteiras contratadas pela Petrobras.

Noutro parágrafo, o PMDB escreve: "Caso alguém tenha, indevida e desautorizadamente, se apresentado como seu representante ou 'operador', ante qualquer empresa pública ou privada, o fez em caráter pessoal ou no interesse de terceiros, em razão do que deverá responder por tais atos, na forma da lei."

Aqui, suspeita-se que o partido tenha desejado deixar claro que o lobista Fernando Soares, vulgo Fernando Baiano, não o representa. Se recolheu propinas em nome do PMDB, como suspeita a Polícia Federal, não estava autorizado a fazê-lo. Se algum expoente do partido serviu-se dos seus préstimos, que responda como pessoa física. Fernando Baiano prestaria depoimento à PF nesta quarta. Mas a oitiva foi adiada.

O texto encerra assim: "O PMDB, como o maior partido do Brasil, exige que tais fatos sejam plenamente apurados e publicadas as conclusões, quando restará provado que deles nunca teve nenhuma participação ou benefício." Nesse ponto, o partido precisa mais de sorte e auxílio divino do que propriamente de um tradutor. Confirmando-se a participação de algum figurão do PMDB na petrorroubalheira, será difícil isolar a logomarca.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.