Levy prega aperto do tipo que desagrada eleitor
Convidado por Dilma Rousseff para comandar a pasta da Fazenda, Joaquim Levy escreveu há nove meses um artigo que dá ideia do tipo de ministro que pretende ser. No texto, disponível aqui, ele contestou a tese segundo a qual a indústria brasileira definha porque o câmbio está sobrevalorizado. O verdadeiro enrosco, escreveu, é a política fiscal.
Para ele, os políticos não ignoram o que deve ser feito em matéria econômica. Porém, "na maior parte dos países, a correção em geral só acontece depois de um bom susto ou uma crise". Por quê? Simples: "Porque aperto fiscal, ter menos programas e novidades, não satisfaz nenhum governante e agrada poucos eleitores."
O convite a Levy distanciou um pouco mais a presidente daquela candidata que cobrava do rival Aécio Neves explicações sobre as "medidas impopulares" que prometia adotar e fustigava Marina Silva por sua proximidade com Neca Setúbal, herdeira do banco Itau. Diretor da administradora de investimentos do Bradesco, Levy é mais "banqueiro" do que a educadora Neca.
O virtual substituto de Guido Mantega defendeu no artigo tripé macroeconômico adotado sob FHC. Acha que ele reconhece que "as políticas monetária e fiscal e o câmbio andam juntos". Sem meias palavras, escreveu: "Menos gasto do governo ajuda a fazer os juros caírem, desestimulando o excesso de entradas de capital e modulando o câmbio."
Secretário do Tesouro Nacional no primeiro governo de Lula, Joaquim Levy ajudou a produzir a sucessão de superávits que apagou a desconfiança que o ex-sindicalista do PT ateara nos mercados durante a sucessão de 2002. À frente de um governo que descumpre suas metas fiscais há dois anos, Dilma parece necessitar de um, digamos, 'efeito Levy' para tentar restaurar a credibilidade.
Resta saber até onde Dilma está disposta a suportar os efeitos da austeridade. Porque, como diz Levy, aperto fiscal "não satisfaz nenhum governante e agrada poucos eleitores."
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