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Josias de Souza

Levy prega aperto do tipo que desagrada eleitor

Josias de Souza

23/11/2014 05h52

Convidado por Dilma Rousseff para comandar a pasta da Fazenda, Joaquim Levy escreveu há nove meses um artigo que dá ideia do tipo de ministro que pretende ser. No texto, disponível aqui, ele contestou a tese segundo a qual a indústria brasileira definha porque o câmbio está sobrevalorizado. O verdadeiro enrosco, escreveu, é a política fiscal.

Para ele, os políticos não ignoram o que deve ser feito em matéria econômica. Porém, "na maior parte dos países, a correção em geral só acontece depois de um bom susto ou uma crise". Por quê? Simples: "Porque aperto fiscal, ter menos programas e novidades, não satisfaz nenhum governante e agrada poucos eleitores."

O convite a Levy distanciou um pouco mais a presidente daquela candidata que cobrava do rival Aécio Neves explicações sobre as "medidas impopulares" que prometia adotar e fustigava Marina Silva por sua proximidade com Neca Setúbal, herdeira do banco Itau. Diretor da administradora de investimentos do Bradesco, Levy é mais "banqueiro" do que a educadora Neca.

O virtual substituto de Guido Mantega defendeu no artigo tripé macroeconômico adotado sob FHC. Acha que ele reconhece que "as políticas monetária e fiscal e o câmbio andam juntos". Sem meias palavras, escreveu: "Menos gasto do governo ajuda a fazer os juros caírem, desestimulando o excesso de entradas de capital e modulando o câmbio."

Secretário do Tesouro Nacional no primeiro governo de Lula, Joaquim Levy ajudou a produzir a sucessão de superávits que apagou a desconfiança que o ex-sindicalista do PT ateara nos mercados durante a sucessão de 2002. À frente de um governo que descumpre suas metas fiscais há dois anos, Dilma parece necessitar de um, digamos, 'efeito Levy' para tentar restaurar a credibilidade.

Resta saber até onde Dilma está disposta a suportar os efeitos da austeridade. Porque, como diz Levy, aperto fiscal "não satisfaz nenhum governante e agrada poucos eleitores."

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.