Corrupção brasileira é coisa de primeiro mundo
Houve um tempo em que só havia duas categorias de países: os "desenvolvidos" e os "subdesenvolvidos". Na década de 50, o demógrafo francês Alfred Sauvy dividiu o mundo em três: o 'primeiro mundo', pujante e capitalista; o 'segundo', composto pelas nações comunistas; e o 'terceiro', integrado pelos pedaços pobres e atrasados do mapa. Nessa época, 'primeiro mundo' virou selo de qualidade no Brasil.
Se um serviço era bom, dizia-se que era de 'primeiro mundo'. Se uma empresa fazia sucesso, era de 'primeiro mundo'. O sumiço do 'segundo mundo' levou à adoção de nova classificação. O Brasil migrou do 'terceiro mundo' para a categoria de 'país emergente'. Não é mais tão pobre. Mas ainda não virou 'desenvolvido'. Numa área, porém, o Brasil já chegou lá: a corrupção.
A corrupção brasileira tornou-se um empreendimento transnacional. Nesta semana, foram à Suíça procuradores e promotores brasileiros que cuidam do caso do cartel que fraudou licitações do metrô e dos trens de São Paulo. Obtiveram do Ministério Público suíço o compromisso de compartilhamento de dados bancários e de processos criminais abertos contra agentes públicos que receberam por baixo da mesa, sob governos do PSDB, propinas das multinacionais Alstom e Siemens.
Na semana passada, procuradores que atuam na Operação Lava Jato também passaram pela Suíça. Numa estadia de quatro dias, impressionaram-se com o volume de informações colecionadas pelos colegas suíços sobre petrocorruptos brasileiros. Voltaram com os extratos bancários de Paulo Roberto Costa, que ocultara na Suíça um butim de US$ 26 milhões amealhado nos subterrâneos da Petrobras, sob os governos do PT. Os investigadores trouxeram também o compromisso de repasse de dados sobre larápios que os inquéritos brasileiros ainda não haviam farejado.
Até os Estados Unidos viram-se obrigados a reconhecer o dinamismo da corrupção brasileira. A SEC, Securities and Exchange Commission, repartição reguladora do mercado de capitais americano, abriu, nas pegadas da Lava Jato, uma investigação contra a Petrobras. Requisitou documentos à estatal brasileira, que negocia papeis na Bolsa de Nova York.
Não é só: no início do mês, o Ministério Público da Holanda informou que a empresa SBM Offshore, uma fornecedora de plataformas de petróleo que mantém negócios bilionários com a Petrobras, firmou um acordo inusitado. A empresa pagou notáveis US$ 240 milhões para evitar a abertura de um processo sobre "propinas" que pagou para obter contratos em Angola, Guiné Equatorial e Brasil.
No Brasil, a SBM desembolsou US$ 139 milhões para lubrificar negócios. E a Petrobras, que havia informado em março que auditoria interna "não encontrou fatos ou documentos que evidenciem pagamento de propina" a seus funcionários, teve de dar meia-volta. Supremo vexame: a estatal admitiu que a própria fornecedora holandesa lhe informara sobre os pagamentos indevidos.
Na maioria dos setores, o Brasil ainda é um país por fazer. Na área da corrupção, porém, o país já foi feito. Deve-se a realização à parceria que une partidos políticos e empresas financiadas pelo déficit público. No setor da roubalheira, o Brasil atingiu o velho sonho. A corrupção nacional é coisa de 'primeiro mundo'.
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