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Josias de Souza

Novo ministro do Esporte mistura fé com política

Josias de Souza

28/12/2014 21h56

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Ninguém entendeu a decisão de Dilma Rousseff de entregar o Ministério do Esporte e a preparação para as Olimpíadas de 2016 ao obscuro deputado federal George Hilton (PRB-MG). A oposição enxerga fisiologismo no gesto. Os amigos do novo ministro atribuem a novidade a outra entidade: Deus.

Pastor da igreja Universal, George Hilton faz questão de misturar política e religião. Baiano, o novo ministro fez carreira em Minas Gerais. Reeleito em outubro, ele foi agradecer seu êxito eleitoral num templo, ao lado de outros dois políticos da 'linha Edir Macedo': os deputados estaduais mineiros bispo Gilberto Amado e pastor Carlos Henrique.

Em reconhecimento aos votos providos pelos fieis, os três ajoelharam-se (repare no vídeo). "…Que o espírito do temor esteja sobre eles", orou o responsável pelo culto, bispo Adilson Silva. Ele pediu aos céus que permita aos eleitos da Universal fazer mais pela sociedade, "porque é uma vergonha a sujeira que a gente vê na política desse país —tanta corrupção, tanta bandidagem. […] Que a gente venha a minimizar a obra do diabo."

Em 2005, quando ainda era deputado estadual pelo então PFL, George Hilton foi flagrado pela Polícia Federal, no aeroporto de Belo Horizonte, com 11 malas e pacotes de dinheiro. Acompanhado de outro pastor, vinha da cidade mineira de Poços de Caldas. Viajava em avião fretado. O boletim de ocorrência anota que o agora ministro alegou que a verba era "doação de fiéis" da Universal, recolhida no "Sul de Minas e Triângulo Mineiro."

O PFL, hoje rebatizado de DEM, expulsou George Hilton dos seus quadros. O que não impediu o pastor de ser abençoado com novos e sucessivos mandatos. No ano seguinte, o eleitorado mineiro enviou-o para Brasília. Prestes a iniciar o seu terceiro mandato federal, o deputado-pastor frequentava a Câmara como membro invisível do baixo clero do Parlamento. Súbito, Dilma guindou-o à Esplanada. Não fosse o passado materialista da presidente, seria imperioso concluir: é coisa do Padre Eterno.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.