Topo

Josias de Souza

Fechado ministério, aliados cobram o 2º escalão

Josias de Souza

01/01/2015 05h52

Rodolfo Stuckert/Ag.Câmara

Dilma Rousseff concluiu na véspera da posse a escolha dos seus 39 ministros. Mas o espírito de bazar continua pairando sobre Brasília. Insatisfeitos com tudo, os partidos querem mais. Pleiteiam, pedem, exigem posições no segundo escalão das pastas. Num momento em que a presidente renova seu compromisso de transformar o Brasil, o Brasil inabalavelmente igual, país das transações espúrias e das negociatas, esforça-se para se impor.

Julgando-se prejudicado, sobretudo com a perda do Ministério da Educação para Cid Gomes (Pros), o PT faz um mapeamento dos cargos de escalão intermediário em Brasília e nos órgãs federais com representação nos Estados. Logo apresentará a sua lista. Que incluirá posições em pastas controladas por outros partidos.

O PMDB farejou no movimento dos petistas um cheiro de queimado. E exige ocupar pelo menos as poltronas que pendem do organograma dos seus ministérios. Por exemplo: na pasta da Aviação Civil, a bancada do PMDB da Câmara quer indicar o presidente da Infraero. Na Agricultura, quer comandar a Embrapa. De resto,deseja tirar o PTB da Conab.

Engolfado pelo petrolão, o PP perdeu o orçamento do Ministério das Cidades para PSD de Gilberto Kassab. Como prêmio de consolação, foi acomodado na também cobiçada pasta da Integração Nacional. Ainda assim, para afastar o risco de ser infiel nas votações do Congresso, a legenda reivindia o que se convencionou chamar de "porteira fechada". Exige o comando da Codevasf, da Chesf e até do Banco do Nordeste. No mesmo diapasão, o PR quer, depois da reconquista da pasta dos Transportes, a reocupação do Dnit e da Valec.

Para infelicidade geral, o escândalo da Petrobras ainda não produziu ensinamentos. Ao compor um "novo" ministério convencional e loteado, Dilma sinalizou que continua admitindo uma dose de clientelismo e fisiologismo no seu governo. Com isso, estimulou os partidos a tirar novas lascas do Orçamento da União. O problema não está apenas em quem pede. Começa em quem admite os pedidos. Os partidos apenas jogam o jogo. Até o próximo rombo.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.