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Josias de Souza

Congresso: todos cantam vitória, exceto a Dilma

Josias de Souza

01/02/2015 06h42

Os aliados políticos do Planalto proporcionarão à presidente da República neste domingo uma boa notícia: na migração do primeiro mandato para o segundo quadriênio de Dilma Rousseff, não houve nenhum aumento da taxa de desarticulação do bloco governista no Congresso. Continua nos mesmos 100%.


São membros de legendas governistas os candidatos mais bem-postos na briga pelo comando das duas Casas legislativas: Eduardo Cunha e Arlinho Chinaglia engalfinham-se na Câmara, Renan Calheiros e Luiz Henrique esfolam-se no Senado. Todos cantam vitória, exceto Dilma.

Vença o candidato A ou B, prevaleça o postulante X ou Y, a presidente sairá derrotada. De tanto tratar congressistas na base do fisiologismo e do ponta-pé, Dilma conseguiu transformar os integrantes de sua coalizão em espécies de cães. Uma parte morde. A outra recusa-se a abanar o rabo antes de receber a ração.

Em condições normais, os presidentes iniciam seus mandatos falando grosso. Mas Dilma inicia seu segundo reinado por baixo. Dissemina-se a sensação de que não é o governo que tem uma base de apoio no Congresso. É a base de apoio que tem o governo em suas mãos. E faz dele gato-sapato.

Representada por cinco ministros, Dilma desceu ao pano verde do Congresso munida de cargos e verbas. Na Câmara, jogou suas fichas no petista Arlindo Chinaglia. Com isso, ou o peemedebista Eduardo Cunha vira um derrotado à espera da vingança ou converte-se num vitorioso que não deve nada ao Planalto.

No Senado, Dilma ignorou os acenos do peemedebista Luiz Henrique para apostar na tetrapresidência de Renan Calheiros. Se der certo, abraça-se a um provável afogado do petrolão. Se der errado, faz do rival de Renan um vitorioso em débito com a oposição liderada pelo tucano Aécio Neves.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.