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Josias de Souza

Ministro atribui má avaliação à agenda complexa

Josias de Souza

09/02/2015 03h31

O ministro Miguel Rossetto (Secretaria-Geral da Presidência) divulgou uma nota com comentários sobre a queda na popularidade de Dilma Rousseff. No texto, atribuiu o fenômeno à "agenda complexa" que a presidente teve de tourear depois da "eleição muito polarizada" que disputou com o antagonista tucano Aécio Neves.

Segundo o Datafolha, a taxa de aprovação de Dilma despencou de 42% para 23% desde dezembro. Rossetto incluiu na agenda o aumento da conta de luz e da gasolina. Anotou que tais "ajustes" foram "necessários para continuar programas sociais". Acrescentou: "sempre falamos durante a campanha sobre equilíbrio fiscal e controle da inflação."

Em verdade, Dilma dizia nos debates eleitorais que as contas do governo e a inflação estavam sob controle. E acusava seus adversários de tramar impatrióticos ajustes. Hoje, informa o Datafolha, seis de cada dez brasileiros avaliam que Dilma mentiu durante a campanha.

O ministro mencionou também a corrupção. Anotou que as denúncias "ocupam grande parte da agenda política e não há ainda julgamento e punição, o que cria um evidente descontentamento na população." Reiterou o compromisso de Dilma "com o combate à corrupção". E repisou a tecla segundo a qual a presidente enviará ao Congresso, como prometera na campanha, projetos "para combater os malfeitos e a impunidade."

Nesse trecho de sua nota, Rossetto repete argumentos que, embora utilizados à exaustão pela própria Dilma, parecem já não surtir efeito. De acordo com o Datafolha, a maioria dos brasileiros acha que a presidente da República sabia da corrupção na Petrobras (77%) e permitiu que os roubos continuassem (52%). Metade dos entrevistados enxerga a presidente como falsa (54%), indecisa (50%) e até desonesta (47%).

Conforme já comentado aqui, Dilma tem um mandato pela frente para estancar a hemorragia que drena o seu prestígio. Mas terá de admitir que a sangria decorre dos seus próprios equívocos. Do contrário, talvez não seja levada a sério.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.