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Josias de Souza

PT interpela Barusco e ignora Youssef e Costa

Josias de Souza

23/02/2015 18h02

Marlene Bergamo/FolhaO PT protocolou duas interpelações judiciais contra o ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco, que acusou a legenda, em delação premida, de receber propinas na Petrobras. Coisa de até US$ 200 milhões, dos quais US$ 50 milhões repassados diretamente ao tesoureiro petista João Vaccari Neto. Uma das petições foi ajuizada na Justiça Cívil. Outra, na Justiça Criminal. Ambas no Rio de Janeiro.

As ações haviam sido anunciadas pelo presidente do PT, Rui Falcão, há 12 dias. Curiosamente, o PT se absteve de encomendar aos seus advogados ações judiciais contra outros delatores que acusaram a legenda de receber propinas provenientes de contratos na Petrobras. Entre eles o ex-diretor Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef.

De resto, as iniciativas do PT transformaram Dilma Rousseff numa personagem sem nexo. Em entrevista concedida na semana passada, a presidente havia evocado o depoimento de Barusco para responsabilizar Fernando Henrique Cardoso pela corrupção que transformou a maior estatal do país em escândalo.

Dilma dissera: "Olhando os dados que vocês mesmos divulgam nos jornais, se em 96 ou 97 tivessem investigado e tivessem naquele momento punido, nós não teríamos o caso desse funcionário da Petrobras que ficou durante quase 20 anos [beneficiando-se] de corrupção. A impunidade, e isso eu disse durante a minha campanha, a impunidade leva água para o moinho da corrupção."

O delator Barusco contara aos procuradores da Operação Lava Jato que começara a receber propinas da empresa holandesa SBM em 1997, época em que FHC governava o país. Barusco também dissera que a petrorroubalheira foi "institucionalizada" a partir de 2004, sob Lula. Daí a fortuna transferida para o PT.

Quer dizer: para Dilma e o PT, Barusco só merece crédito até certo ponto. O ponto em que foi corrupto durante o governo tucano de FHC. Até aí, ele é tão verdadeiro que justifica a inclusão da Era FHC na CIP da Petrobras. Quanto ao período de 2003 em diante, quando Lula tomou posse, o delator não merece o mínimo crédito. É visto pelo PT como mentiroso e caluniador.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.