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Josias de Souza

Entrevista de Levy provoca irritação no Planalto

Josias de Souza

28/02/2015 02h44

Ao utilizar vocábulos como "grosseiro" e "brincadeira" para se referir à desoneração da folha de pagamento, o ministro Joaquim Levy causou irritação no Palácio do Planalto. Um auxiliar de Dilma Rousseff definiu a entrevista do titular da Fazenda com outras duas palavras tóxicas: "desnecessária" e "desastrosa".

Ao anunciar aos jornalistas que o governo decidira elevar a contribuição previdenciária das empresas, revendo parcialmente a política de desoneração adotada desde 2011 pelo antecessor Guido Mantega, Levy disse coisas assim:

"Você aplicou um negócio que era muito grosseiro. O problema é que essa brincadeira nos custa 25 bilhões por ano e […] não tem protegido emprego. […] O momento que a gente vive, a gente tem que pegar as coisas que são pouco menos eficientes e reduzir",

As mudanças elevarão o custo do empregado em 59 setores da economia a partir de junho. Com isso, o governo espera voltar a arrecadar algo como R$ 13 bilhões por ano. Como a coleta será retomada somente a partir de junho, a cifra a ser amealhada em 2015 será de R$ 5,3 bilhões.

O modo como Levy anunciou a má notícia não aborreceu apenas o staff de Dilma. Parlamentares que integram partidos governistas também saltaram da cadeira. "Nós aprovamos a desoneração no Congresso porque imaginávamos que era coisa séria", disse, por exemplo, o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA). "Os empresários também se reprogramaram imaginando que a coisa era séria. De repente, descobrem que não há segurança jurídica no país."

"Quando enviar novas propostas ao Legislativo, a presidente Dilma precisa informar se é brincadeira ou se devemos levar a sério", acrescentou Vieira Lima. "A cúpula do PMDB será recebida pela presidente num jantar marcado para segunda-feira. A primeira coisa que o partido precisa perguntar para a Dilma é se a conversa será séria ou se é mais uma brincadeirinha."

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.