Topo

Josias de Souza

Brasília poupa empreiteiras porque não conseguiria viver sem os mimo$ delas

Josias de Souza

05/03/2015 18h51

Alan Marques/Folha

Começou a funcionar mais uma CPI da Petrobras. Considerando-se o resultado da sessão inaugural, o colegiado caminha em direção ao vexame. Mais um. A CPI revelou-se capaz de quase tudo, menos de investigar empreiteiras.

Convenhamos: deputados que, depois de mais de uma década em que a Petrobras foi saqueada pelos esquemas que acompanharam os partidos numa invasão à estatal, conseguem se apresentar como "investigadores" sem exibir um pingo de curiosidade sobre os corruptores ou são cínicos ou tolos. Em nenhum dos dois casos são os detetives que o escândalo exige.

Os deputados não estão sozinhos. Dilma Rousseff também defende as empreiteiras. Ela sustenta que é preciso punir os executivos que cometeram crimes, não as empresas. Um acinte. Primeiro porque não é possível separar  uns das outras. Segundo porque aprovou-se no Congresso, sob Lula, uma lei cujo objetivo era justamente estender a punição às empresas desonestas.

O ministro da Justiça e a Controladoria-Geral da União negociam acordos de "leniência" com as empreiteiras. Não para obter informações que ampliem o leque de punições, como previsto na nova lei, mas para livrá-las do título de "inidôneas", que levaria à proibição de celebrar novos contratos com o Estado.

Muitos congressistas e autoridades espantam-se com a severidade do juiz Sérgio Moro. O magistrado da Lava Jato mantém desde novembro 11 executivos de empreiteiras dormindo nos colchonetes da carceragem da Polícia Federal em Curitiba. A surpresa de Brasília é compreensível.

A Capital da República não funcionaria sem os mimo$ providos pelas empreiteiras. E quem ainda é capaz de enxergar a promiscuidade como algo "normal" não pode exibir outro tipo de moralismo senão o moralismo seletivo.

Sobre o autor

Josias de Souza é jornalista desde 1984. Nasceu na cidade de São Paulo, em 1961. Trabalhou por 25 anos na ''Folha de S.Paulo'' (repórter, diretor da Sucursal de Brasília, Secretário de Redação e articulista). É coautor do livro ''A História Real'' (Editora Ática, 1994), que revela bastidores da elaboração do Plano Real e da primeira eleição de Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República. Em 2011, ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo (Regional Sudeste) com a série de reportagens batizada de ''Os Papéis Secretos do Exército''.

Sobre o blog

A diferença entre a política e a politicagem, a distância entre o governo e o ato de governar, o contraste entre o que eles dizem e o que você precisa saber, o paradoxo entre a promessa de luz e o superfaturamento do túnel. Tudo isso com a sua opinião na caixa de comentários.